Enquanto as cores de Atauro são tão fantasticamente exuberantes, eu vejo a vida dos ilhéus tornar-se cada vez mais desbotada e cinzenta. O governo timorense fala em incentivos ao turismo na ilha, mas até o momento, a única providência, ainda inconcreta, é a proposta que o barco Nakroma faça o percurso de ida e volta Atauro-Dili duas vezes por semana. Atualmente, o barco sai de Dili aos Sábados pela manhã (horário indeterminado entre nove e dez horas) e retorna partindo de Ataúro às 15h. Considerando que o percurso leva pouco mais de duas horas, o tempo máximo de estada de um turista na ilha é de – com sorte – quatro horas. O turista mais radical tem duas opções: ficar uma semana na ilha, ou retornar de beiro (barquinho a motor usado pelos pescadores) saindo de lá, a partir de segunda-feira, às quatro da madrugada.
Passar uma semana na ilha não sai barato. O hotel Eco Village cobra $ 15.00 USD por dia e não inclui o café da manhã (mais $ 3.00 USD). As refeições podem ser feitas num restaurante próximo, administrado pelo ítalo-brasileiro Padre Luís, desde que se avise com antecedência. Comida caseira bem temperada a $ 4.00 USD, mas cuidado com a jarra de limonada servida como se fosse parte do pacote, pois sai por $ 3.50 USD. Incluindo aí as passagens de ida e volta – que para “malaes” saem por $ 10.00 USD cada – prepare $ 200.00 USD sem incluir qualquer bebida!
Se desejar conforto, é melhor ficar em casa. O hotel oferece cabanas com uma lâmpada que funciona das 18h às 6h. Apesar da cabana ser de bambu, o vento e o ar fresco da praia não penetram no quarto e se fechar a janela vivenciará a experiência de uma flor em estufa. Se mantiver a janela aberta, besunte-se de repelente contra insetos. Cuidado também com a porta que pretende ser corrediça, mas pode ser uma armadilha deixando-o preso no quarto bem na hora em que mais precisaria sair dele... e, por falar em banheiro... KKKKKKKKKKKK
Há dois banheiros na pousada que tem lotação máxima para 16 pessoas. A privada ecológica tem um tampo de madeira quadrado feito de tal forma que torna-se quase impossível usá-lo sem tocá-lo, ou seja, a solução é subir no tampo e ficar de cócoras. Após o uso, não se joga água, mas sim uma caneca de serragem que deve ser despejada para cobrir o que quer que se tenha deixado por lá. A vantagem do hotel não oferecer nem um copo d’água é que assim usa-se menos o banheiro. O banho é de cuia, com a retirada de uma água de aspecto duvidoso armazenada num tanque mais duvidoso ainda.
Os meios de transporte na ilha são as angunas superlotadas ou uma versão timorense dos tuk-tuks tailandeses. Adapta-se uma pequena caçamba a uma moto, faz-se uma oração e embarca-se. O Nakroma transporta carros ou motos, mas daí tem-se que acrescentar mais uns $ 150.00 USD à despesa.
Tornando a falar sobre transporte, não dentro da ilha, mas entre a ilha e a outra ilha (eu ia chamar Dili de continente...), o beiro é uma aventura não recomendada à maioria dos mortais. Trata-se de um barquinho de cerca de três metros de comprimento por um metro de largura (na média) com “estabilizadores” de bambu amarrados dos dois lados. Se por um lado esses bambus impedem que o barco vire, por outro lado, levantam a água de forma que, dez minutos depois de iniciada a viagem, já se está tão ensopado quanto se estaria caso o trajeto fosse feito a nado – e não é exagero! Quando me disseram que seriam “baldes” de água despejados sobre nós, eu também achei que fosse exagero, mas é a exata descrição do volume de água que o bambu levanta barco adentro a cada pequena onda que cruza... e são quase 30 quilômetros de ondas.
Se para um turista, da categoria homus-urbanus como eu, o beiro é uma aventura de onde se sai molhado, mas sorridente, para os moradores de Atauro pode ser uma tortura. A ilha carece de infra-estrutura em todas as áreas e não consigo imaginar como alguém que necessite de uma cirurgia urgente, por exemplo, sobreviva a uma viagem daquelas. O sistema de saúde em Atauro não é exatamente bom, digamos assim, e emergências não esperam pelo Sábado à tarde para acontecer. Há escolas em Atauro. Dez escolas primárias, uma pré-secundária e três secundárias. Há também um hospital comunitário e quatro postos de saúde. Não seria uma contagem das piores se não fosse a geografia do lugar. Não há rodovias na ilha, apenas uma estrada que liga o local do porto principal, Beloi, à antiga capital, Maumeta Vila. Das montanhas no norte a Beloi, pode-se levar até 3 dias caminhando. As dificuldades são diversas e vão do terreno escarpado, onde há frequentes deslizamentos de terra, à carência de água potável, especialmente durante a estação seca. As poucas fontes de água potável estão localizadas no centro da ilha. Poços no litoral suprem de água de má qualidade a maior parte das vilas costeiras. O comércio (comércio?) é praticamente inexistente e além das habituais vendas de roupas usadas e barracas de “montinhos” – lotes de produtos da agricultura local – há apenas o mercado que funciona nas imediações do porto aos Sábados.
Sem transportes, água potável, ou fontes de alimentação, com um fraco sistema de saúde e educação, a população de Atauro sobrevive da pesca, mas ainda não compreendi para quem vendem o peixe... Se todos pescam, quem precisa comprar peixe? E com que dinheiro? Não há um programa para que o pescado seja transportado da ilha para Dili e daí possa vir a ser comercializado com um mínimo de profissionalismo. E segue o povo de Atauro a desfrutar toda aquela beleza que não tem como ser admirada com panelas vazias!
Eu, certamente, vim aqui muito mais para aprender do que para ensinar. Na próxima sexta-feira vou estar novamente com os professores de Atauro e tenho inúmeras questões a oferecer-lhes. Prometo retomar o assunto aqui também e, se puder, juntar-me aos poucos e destemidos “malaes” que promovem ajuda humanitária ao povo desse paraíso em potencial.
Se desejar conforto, é melhor ficar em casa. O hotel oferece cabanas com uma lâmpada que funciona das 18h às 6h. Apesar da cabana ser de bambu, o vento e o ar fresco da praia não penetram no quarto e se fechar a janela vivenciará a experiência de uma flor em estufa. Se mantiver a janela aberta, besunte-se de repelente contra insetos. Cuidado também com a porta que pretende ser corrediça, mas pode ser uma armadilha deixando-o preso no quarto bem na hora em que mais precisaria sair dele... e, por falar em banheiro... KKKKKKKKKKKK
Há dois banheiros na pousada que tem lotação máxima para 16 pessoas. A privada ecológica tem um tampo de madeira quadrado feito de tal forma que torna-se quase impossível usá-lo sem tocá-lo, ou seja, a solução é subir no tampo e ficar de cócoras. Após o uso, não se joga água, mas sim uma caneca de serragem que deve ser despejada para cobrir o que quer que se tenha deixado por lá. A vantagem do hotel não oferecer nem um copo d’água é que assim usa-se menos o banheiro. O banho é de cuia, com a retirada de uma água de aspecto duvidoso armazenada num tanque mais duvidoso ainda.
Os meios de transporte na ilha são as angunas superlotadas ou uma versão timorense dos tuk-tuks tailandeses. Adapta-se uma pequena caçamba a uma moto, faz-se uma oração e embarca-se. O Nakroma transporta carros ou motos, mas daí tem-se que acrescentar mais uns $ 150.00 USD à despesa.
Tornando a falar sobre transporte, não dentro da ilha, mas entre a ilha e a outra ilha (eu ia chamar Dili de continente...), o beiro é uma aventura não recomendada à maioria dos mortais. Trata-se de um barquinho de cerca de três metros de comprimento por um metro de largura (na média) com “estabilizadores” de bambu amarrados dos dois lados. Se por um lado esses bambus impedem que o barco vire, por outro lado, levantam a água de forma que, dez minutos depois de iniciada a viagem, já se está tão ensopado quanto se estaria caso o trajeto fosse feito a nado – e não é exagero! Quando me disseram que seriam “baldes” de água despejados sobre nós, eu também achei que fosse exagero, mas é a exata descrição do volume de água que o bambu levanta barco adentro a cada pequena onda que cruza... e são quase 30 quilômetros de ondas.
Se para um turista, da categoria homus-urbanus como eu, o beiro é uma aventura de onde se sai molhado, mas sorridente, para os moradores de Atauro pode ser uma tortura. A ilha carece de infra-estrutura em todas as áreas e não consigo imaginar como alguém que necessite de uma cirurgia urgente, por exemplo, sobreviva a uma viagem daquelas. O sistema de saúde em Atauro não é exatamente bom, digamos assim, e emergências não esperam pelo Sábado à tarde para acontecer. Há escolas em Atauro. Dez escolas primárias, uma pré-secundária e três secundárias. Há também um hospital comunitário e quatro postos de saúde. Não seria uma contagem das piores se não fosse a geografia do lugar. Não há rodovias na ilha, apenas uma estrada que liga o local do porto principal, Beloi, à antiga capital, Maumeta Vila. Das montanhas no norte a Beloi, pode-se levar até 3 dias caminhando. As dificuldades são diversas e vão do terreno escarpado, onde há frequentes deslizamentos de terra, à carência de água potável, especialmente durante a estação seca. As poucas fontes de água potável estão localizadas no centro da ilha. Poços no litoral suprem de água de má qualidade a maior parte das vilas costeiras. O comércio (comércio?) é praticamente inexistente e além das habituais vendas de roupas usadas e barracas de “montinhos” – lotes de produtos da agricultura local – há apenas o mercado que funciona nas imediações do porto aos Sábados.
Sem transportes, água potável, ou fontes de alimentação, com um fraco sistema de saúde e educação, a população de Atauro sobrevive da pesca, mas ainda não compreendi para quem vendem o peixe... Se todos pescam, quem precisa comprar peixe? E com que dinheiro? Não há um programa para que o pescado seja transportado da ilha para Dili e daí possa vir a ser comercializado com um mínimo de profissionalismo. E segue o povo de Atauro a desfrutar toda aquela beleza que não tem como ser admirada com panelas vazias!
Eu, certamente, vim aqui muito mais para aprender do que para ensinar. Na próxima sexta-feira vou estar novamente com os professores de Atauro e tenho inúmeras questões a oferecer-lhes. Prometo retomar o assunto aqui também e, se puder, juntar-me aos poucos e destemidos “malaes” que promovem ajuda humanitária ao povo desse paraíso em potencial.