Todas as vezes que ouço alguém repetir o mote "Errar é humano!", me apavoro um pouco. Felinos preparam-se para dar um bote e a presa foge. Cães tentam pegar uma vara que lhes é atirada e não conseguem. Até as árvores que se esforçam para crescer na direção do sol, às vezes acabam morrendo na sombra. A capacidade de errar não é inerente ao ser humano, muito menos exclusiva dele.
Quando se parte do princípio que errar é humano, cria-se permanentemente uma justificativa para todos os erros, falhas e desperdícios cometidos. Talvez, aos humanos seja dada a possibilidade de escolha e errar nada mais seja que fazer uma opção inadequada. Errar é opcional e a grande maioria dos erros é evitável.
Tenho ouvido constantemente a frase "Errar é humano!", principalmente em meu ambiente de trabalho, o que significa que muito se tem errado por ali. Eu poderia, por exemplo, ter escrito "Errar é umano" e, caso estivesse usando um editor de texto, "umano" apareceria sublinhado por uma linha ondulada vermelha e eu teria a possibilidade de corrigir meu erro clicando o botão direito do mouse. Muito mais complicado seria no caso de eu estar escrevendo meu texto usando os bons e velhos lápis e papel...
Num texto manuscrito, como uma carta, por exemplo, um erro como esse demonstraria claramente minha desatenção ou – pior – minha pouca familiaridade com a Língua Portuguesa. E aí? Onde estaria o erro? Afinal sou uma profissional selecionada para trabalhar num programa de Qualificação em Língua Portuguesa atuando fora do meu país e que, de alguma forma, represento o governo brasileiro. Como qualificar alguém naquilo para o qual sou desqualificada? O erro teria sido apenas meu ou eu dividiria a responsabilidade do mesmo com quem me escolheu indevidamente para ocupar esse posto?
Acontece que, felizmente para uns e infelizmente para outros, estamos na era digital e o memorial escrito e enviado à Brasília não foi manuscrito e, com base também neste memorial, fui selecionada para participar do Programa. Teoricamente, sou alguém que sabe escrever. Se agora eu escrever uma carta, por exemplo, sem o auxílio do Microsoft Word e cometer erros que denotem meu iletramento, a má sorte terá sido dos professores timorenses que serão capacitados por alguém incapaz de fazê-lo.
Houve também uma entrevista neste processo seletivo e caso eu tivesse lá chegado dizendo que “vou ir pro Timor” ou que “isso é pra ti saber”, certamente não teria sido aprovada, mas considerando que estou aqui, acredita-se que eu não tenha cometido quaisquer destes erros.
Há muitas máximas a respeito de erros: “Há erros e erros”, “Um erro não justifica o outro”, etc. Todas costumam ser ditas e repetidas por quem acaba de cometer um erro. Eu não fujo à regra e também já me ouvi a dizer coisas como essas, mas talvez a minha frase predileta seja, “Insistir no erro é burrice”.
E, por falar em insistir em erros, finalmente chego ao motivo de todo esse preâmbulo, ou seja, o mais novo vídeo da cantora Vanusa que está sendo um dos mais exibidos pelo YouTube essa semana.
Depois de protagonizar o episódio lamentável do “Hino Nacional”, há alguns meses, numa cerimônia oficial em São Paulo, a cantora esqueceu a letra da música “Sonho de Um Palhaço” numa apresentação em Manaus. À época do escândalo com o hino, Vanusa justificou-se como pôde indo desde o clássico “errar é humano” até culpar Duque Estrada pela letra complicada e de difícil memorização.
Aliás, todos esses personagens da nossa história podem ser responsabilizados por mais alguns de nossos erros como, por exemplo, a citação da frase célebre de Monteiro Lobato (“Um país se faz com homens e livros.”) vir precedida pela biografia de Ruy Barbosa (“Jurista, jornalista e Ministro da Fazenda no Brasil”) numa cerimônia de encerramento do Curso de Bacharelato em Timor-Leste, diante de centenas de pessoas, mas como sempre, somos humanos, não é mesmo?
Voltando à Vanusa e suas gafes, dessa vez vai ser mais complicado ela se explicar. Não havia o par de óculos emprestado impedindo-a de ler a letra, muito menos falta de familiaridade com a canção. Pode-se até aceitar que Vanusa não tenha aprendido a cantar o “Hino Nacional” na escola, mas a cantora entoa “Sonho de Um Palhaço” desde a década de 70, sem contar que foi casada com o autor, Antonio Marcos, pai de suas duas filhas. Terá sido novamente o problema com a medicação para labirintite? Se for este o caso, volto a insistir que erros podem ser evitados já que a cantora não deveria subir novamente ao palco sob o efeito das mesmas drogas que a transformaram em motivo de chacota nacional.
Observem (vídeo acima) que, tanto em São Paulo quanto no Amazonas, os músicos que a acompanham (?) fazem das tripas coração tentando manter um mínimo de dignidade na apresentação. O constrangimento dos músicos é visível, mas Dona Vanusa parece não estar preocupada nem com eles nem com as pessoas na platéia. Ao menos no primeiro episódio, houve muitas explicações e justificativas, mas não houve um mea culpa, muito menos um pedido de desculpas. Vanusa é apenas uma patética mulher de meia-idade que parece não admitir o próprio fracasso.
Por menos que se deseje sentir piedade, este é o único sentimento que devemos ter por uma pessoa que depois de tanto afirmar que errar é humano, volta a incorrer no mesmo erro. Esta senhora é nada mais, nada menos, que digna de pena.
E o que dizer daqueles que possibilitaram que outro erro acontecesse, que ao dar a ela uma nova chance prejudicaram os que tinham suas melhores expectativas no resultado do trabalho de alguém comprovadamente incompetente? Os que permitiram que um novo erro acontecesse não se importaram em constranger a pobre senhora, expondo-a novamente ao ridículo, nem em frustrar os esforços daqueles que tentaram impedir o naufrágio remando até mesmo contra a correnteza.
A esses, só posso repetir: “Errar é humano, mas insistir no erro é burrice”.
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