Olá!

Bem vindos ao diário de uma brasileira em Timor-Leste - uma meia-ilha no outro lado do planeta que a todos encanta com a magia do canto de uma sereia.
Ou seria o canto de um crocodilo? Bem... em se tratando de Timor, lafaek sira bele hananu... :-))

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Versos Íntimos



Dentre as muitas frases feitas que permeiam a cultura popular, uma que vivo a repetir é: “Não se chuta cachorro morto”.

Dentre as muitas maldades que o homem é capaz de fazer, essa é das piores. Não se tripudia o derrotado. Não se tira mais nada daquele que tudo perdeu.

Dentre as muitas ações erradas que nos surpreendemos a cometer, está fazer aquilo que sabemos ser cruel e mesquinho... mas todos temos um “lado B” e o exercício da crueldade é inerente à natureza humana. Samuel Johnson, escritor inglês do século XVIII (Bendita Wikipedia!), definiu a crueldade com maestria ao dizer, “A piedade não é natural ao homem. Crianças são sempre cruéis. Selvagens são sempre cruéis. A piedade é adquirida e aperfeiçoada pelo cultivo da razão.”. Talvez, 53 anos vividos não me tenham sido ainda suficientes para esse aperfeiçoamento. Não sou uma pessoa piedosa, lamento.

Dentre meus muitos defeitos que até tento corrigir, mas não consigo, está a vingança. Dizem que é um prato que se come frio, mas me delicio em buffets de saladas. Fazer o quê? Não sou pessoa de premeditar uma vingança, mas também não vou negar que fico feliz quando vejo que o universo conspira a favor dos justos e o mau recebe o mal em retorno. Se isso quer dizer que sou vingativa e não consigo mudar, me consolo na frase de Clarice Lispector: "Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.".

Dentre as poucas orações que aprendi a rezar, a minha favorita é a chamada Oração da Paz, de autoria erroneamente atribuída a São Francisco de Assis. Lá diz, “Onde houver erro, que eu leve a verdade” e, talvez por isso, eu assuma um papel de justiceira sempre que presencio o erro, a mentira, a Lei de Gerson levada ao extremo por aqueles que querem levar vantagem em tudo.

Finalmente, dentre os muitos pedidos de desculpas que já pedi depois de fazer algo que não deveria ter feito, aqui vai um inédito (para mim) pedido de desculpas antecipado. Que o meu leitor me perdoe – você mesmo, que talvez seja o único a despender seu tempo lendo meus escritos – porque vou errar! Vou errar, me desculpe, mas eu vou errar... Vou dedicar um poema à ex-professora-tutora do PROFEP-Timor que iniciou ontem sua viagem de retorno ao Brasil:


Versos Íntimos

Augusto dos Anjos

Ziraldo; Jeremias, O Bom; Rio de Janeiro/São Paulo: Editora Expressão e Cultura, 1969.


    Vês! Ninguém assistiu ao formidável
    Enterro de tua última quimera.
    Somente a ingratidão – esta pantera –
    Foi tua companheira inseparável!

    Acostuma-te à lama que te espera!
    O homem, que, nesta terra miserável,
    Mora, entre feras, sente inevitável
    Necessidade de também ser fera.

    Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
    O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
    A mão que afaga é a mesma que apedreja.

    Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
    Apedreja essa mão vil que te afaga,
    Escarra nessa boca que te beija!


sábado, 14 de agosto de 2010

Thank God Almighty, we are free at last!

"A verdadeira paz não é somente a ausência de tensão: é a presença de justiça."




"True peace is not merely the absence of tension: it is the presence of justice."


Martin Luther King Jr.
 
 

É Hoje







A minha alegria!

A minha alegria atravessou o mar
E ancorou na passarela
Fez um desembarque fascinante
No maior show da terra

Será que eu serei o dono desta festa
Um rei
No meio de uma gente tão modesta
Eu vim descendo a serra
Cheio de euforia para desfilar
O mundo inteiro espera
Hoje é dia do riso chorar

Levei o meu samba pra mãe de santo rezar
Contra o mal olhado eu carrego o meu patuá
Eu levei!
Levei o meu samba pra mãe de santo rezar
Contra o mal olhado eu carrego o meu patuá
Eu levei!

Acredito

Acredito ser o mais valente nessa luta do rochedo com o mar
E com o ar!
É hoje o dia da alegria
E a tristeza, nem pode pensar em chegar
Diga espelho meu!

Diga espelho meu
Se há na avenida alguém mais feliz que eu
Diga espelho meu
Se há na avenida alguém mais feliz que eu
A minha alegria!

A minha alegria atravessou o mar
E ancorou na passarela
Fez um desembarque fascinante
No maior show da terra

Será que eu serei o dono desta festa
Um rei
No meio de uma gente tão modesta
Eu vim descendo a serra
Cheio de euforia para desfilar
O mundo inteiro espera
Hoje é dia do riso chorar

Levei o meu samba pra mãe de santo rezar
Contra o mal olhado eu carrego o meu patuá
Eu levei!

Levei o meu samba pra mãe de santo rezar
Contra o mal olhado eu carrego o meu patuá
Eu levei!

UNIÃO ILHA - 1982
Compositores: Didi/Mestrinho

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

NOTA DE REPÚDIO

Eu, TELMA CASTRO SILVA, professora-bolsista do Programa de Qualificação de Docente e Ensino de Língua Portuguesa no Timor-Leste, selecionada para atuar no mesmo através do Edital Nº 011/2009 CAPES/CGCI publicado no D.O.U. em 22 de maio de 2009, venho através desta manifestar meu repúdio pela forma como foi conduzida a reintegração da Professora Senhorinha de Jesus Pit Paz ao posto de professora-tutora do Projeto de Capacitação de Professores da Escola Primária (Profep) depois que esta o abandonou alegando questões de ordem pessoal.

No item 3.2 do Edital CGCI – nº 011/2009 consta que, uma das obrigações do bolsista seria “Conhecer as normas e regras da CAPES para bolsistas no exterior, em especial o Manual do Bolsista que será entregue aos selecionados para a entrevista”. Não recebi o citado Manual, e a melhor maneira encontrada para informar-me a respeito das normas e regras da CAPES, dadas as conhecidas dificuldades de comunicação com o Brasil, foi através de consultas à Internet.

Desta forma, encontrei uma cópia do Manual do Bolsista CAPES onde se prevê apenas três situações nas quais um bolsista pode solicitar interrupção/suspensão da bolsa, com posterior possibilidade de reativação:

• Doença grave que impeça o desenvolvimento das atividades do curso, pelo prazo máximo de 6 (seis) meses;
• Licença maternidade, pelo prazo previsto pela legislação federal;
• Realização de Doutorado sandwich ou estágio relacionado com o plano de curso, pelo prazo máximo de 12 (doze) meses no país, e até 24 (vinte e quatro) meses, no exterior.

Na carta aberta datada de 2 de julho de 2010, em que a Professora Senhorinha de Jesus Pit Paz declara a “firme e convicta decisão” de colocar seu cargo à disposição da CAPES – decisão esta que considera “irrevogável” – não há a menção a nenhum dos itens acima, pelo contrário, em reunião nas dependências do Profep no dia 1º de julho de 2010, quando a Professora Senhorinha de Jesus Pit Paz afirma “estar encerrando sua participação nesse programa”, ela avisa que “iria comunicar à Brasília para pedir seu desligamento, considerando que não há mais clima diante das colocações ou condições de continuar conduzindo o grupo e o trabalho” conforme consta em ata de registro da mesma.

As “colocações” a que a Professora Senhorinha de Jesus Pit Paz se refere ao declarar encerrada sua participação no Programa eram, basicamente, uma solicitação de explicações a respeito do tratamento diferenciado dado pela professora-tutora Senhorinha de Jesus Pit Paz ao professor-bolsista Antonio Carlos da Silva Mendes que, ciente do teor da reunião de 1º de julho, nem se dignou a comparecer à mesma sendo, ainda assim, ardorosamente defendido pela Professora Senhorinha de Jesus Pit Paz, mesmo quando se tratava de justificar condutas antiéticas perpetradas por ele. Ao ver-se confrontada pelos fatos e, na impossibilidade de justificar o injustificável, a Professora Senhorinha de Jesus Pit Paz preferiu abandonar o Programa sem preocupar-se com as consequências deste ato no que se refere à conclusão do curso para os 84 professores timorenses que atuam nas Escolas Primárias dos distritos de Dili e Liquiça e que se dedicam ao programa desde 2008.

O documento assinado pelo Sr. Alexandre Prestes Silveira, Coordenador-Geral de Programas de Cooperação Internacional, enviado pela CAPES aos bolsistas em Timor-Leste no dia 02 de dezembro de 2009, em seu item 6, diz que ao bolsista cabe: “Não interromper o Programa antes de apresentar a justificativa após o pleito e obter a prévia autorização da CAPES, por escrito, sob pena de devolução de todas as parcelas recebidas, atualizadas pelo câmbio do dia do ressarcimento, acrescidas de multa de 10% sobre o total do débito.”. A Professora Senhorinha de Jesus Pit Paz interrompeu suas funções imediatamente após a participação verbal de seu afastamento feita na reunião do dia 1º de julho, e antes mesmo de comunicar sua decisão à Embaixada do Brasil em Dili para que fosse tomada qualquer providência no sentido de dar continuidade ao trabalho do Profep em Timor-Leste.

O Portal da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) apresenta o Código de Ética do Servidor Público alertando para a importância de “difundir conceitos e informações que possam melhorar a conduta ética e profissional da comunidade universitária”. Dentre as vedações ao servidor público, o Código de Ética enumera, “permitir que perseguições, simpatias, antipatias, caprichos, paixões ou interesses de ordem pessoal interfiram no trato com o público, com os jurisdicionados administrativos ou com colegas hierarquicamente superiores ou inferiores”. Estendendo o conceito ao mundo acadêmico e entendendo a repercussão da conduta dos professores-bolsistas da CAPES em Timor-Leste, reconhecendo-os como representantes do Brasil junto às entidades educacionais timorenses, fica ainda mais difícil compreender a reativação da bolsa de uma professora-tutora cujas ações parecem ser regidas por um código de antiética e, face aos últimos acontecimentos, cujo melhor procedimento foi pedir seu afastamento declarando-se incapaz de “continuar conduzindo o grupo e o trabalho”.

No meu entender, o retorno da Professora Senhorinha de Jesus Pit Paz ao posto de tutora pedagógica do Profep é uma prova de desrespeito, não apenas às normas e regras pré-estabelecidas pela CAPES, mas à ética e profissionalismo daqueles que agem com probidade e comprometimento com os valores que, supostamente, deveriam nortear as ações dos educadores brasileiros.


Com indignação,



Telma Castro Silva

Dili, 29 de julho de 2010


Na vida, assim como no Profep-Timor: "Errar é humano!"





Todas as vezes que ouço alguém repetir o mote "Errar é humano!", me apavoro um pouco. Felinos preparam-se para dar um bote e a presa foge. Cães tentam pegar uma vara que lhes é atirada e não conseguem. Até as árvores que se esforçam para crescer na direção do sol, às vezes acabam morrendo na sombra. A capacidade de errar não é inerente ao ser humano, muito menos exclusiva dele.

Quando se parte do princípio que errar é humano, cria-se permanentemente uma justificativa para todos os erros, falhas e desperdícios cometidos. Talvez, aos humanos seja dada a possibilidade de escolha e errar nada mais seja que fazer uma opção inadequada. Errar é opcional e a grande maioria dos erros é evitável.

Tenho ouvido constantemente a frase "Errar é humano!", principalmente em meu ambiente de trabalho, o que significa que muito se tem errado por ali. Eu poderia, por exemplo, ter escrito "Errar é umano" e, caso estivesse usando um editor de texto, "umano" apareceria sublinhado por uma linha ondulada vermelha e eu teria a possibilidade de corrigir meu erro clicando o botão direito do mouse. Muito mais complicado seria no caso de eu estar escrevendo meu texto usando os bons e velhos lápis e papel...

Num texto manuscrito, como uma carta, por exemplo, um erro como esse demonstraria claramente minha desatenção ou – pior – minha pouca familiaridade com a Língua Portuguesa. E aí? Onde estaria o erro? Afinal sou uma profissional selecionada para trabalhar num programa de Qualificação em Língua Portuguesa atuando fora do meu país e que, de alguma forma, represento o governo brasileiro. Como qualificar alguém naquilo para o qual sou desqualificada? O erro teria sido apenas meu ou eu dividiria a responsabilidade do mesmo com quem me escolheu indevidamente para ocupar esse posto?

Acontece que, felizmente para uns e infelizmente para outros, estamos na era digital e o memorial escrito e enviado à Brasília não foi manuscrito e, com base também neste memorial, fui selecionada para participar do Programa. Teoricamente, sou alguém que sabe escrever. Se agora eu escrever uma carta, por exemplo, sem o auxílio do Microsoft Word e cometer erros que denotem meu iletramento, a má sorte terá sido dos professores timorenses que serão capacitados por alguém incapaz de fazê-lo.

Houve também uma entrevista neste processo seletivo e caso eu tivesse lá chegado dizendo que “vou ir pro Timor” ou que “isso é pra ti saber”, certamente não teria sido aprovada, mas considerando que estou aqui, acredita-se que eu não tenha cometido quaisquer destes erros.

Há muitas máximas a respeito de erros: “Há erros e erros”, “Um erro não justifica o outro”, etc. Todas costumam ser ditas e repetidas por quem acaba de cometer um erro. Eu não fujo à regra e também já me ouvi a dizer coisas como essas, mas talvez a minha frase predileta seja, “Insistir no erro é burrice”.

E, por falar em insistir em erros, finalmente chego ao motivo de todo esse preâmbulo, ou seja, o mais novo vídeo da cantora Vanusa que está sendo um dos mais exibidos pelo YouTube essa semana.

Depois de protagonizar o episódio lamentável do “Hino Nacional”, há alguns meses, numa cerimônia oficial em São Paulo, a cantora esqueceu a letra da música “Sonho de Um Palhaço” numa apresentação em Manaus. À época do escândalo com o hino, Vanusa justificou-se como pôde indo desde o clássico “errar é humano” até culpar Duque Estrada pela letra complicada e de difícil memorização.

Aliás, todos esses personagens da nossa história podem ser responsabilizados por mais alguns de nossos erros como, por exemplo, a citação da frase célebre de Monteiro Lobato (“Um país se faz com homens e livros.”) vir precedida pela biografia de Ruy Barbosa (“Jurista, jornalista e Ministro da Fazenda no Brasil”) numa cerimônia de encerramento do Curso de Bacharelato em Timor-Leste, diante de centenas de pessoas, mas como sempre, somos humanos, não é mesmo?

Voltando à Vanusa e suas gafes, dessa vez vai ser mais complicado ela se explicar. Não havia o par de óculos emprestado impedindo-a de ler a letra, muito menos falta de familiaridade com a canção. Pode-se até aceitar que Vanusa não tenha aprendido a cantar o “Hino Nacional” na escola, mas a cantora entoa “Sonho de Um Palhaço” desde a década de 70, sem contar que foi casada com o autor, Antonio Marcos, pai de suas duas filhas. Terá sido novamente o problema com a medicação para labirintite? Se for este o caso, volto a insistir que erros podem ser evitados já que a cantora não deveria subir novamente ao palco sob o efeito das mesmas drogas que a transformaram em motivo de chacota nacional.

Observem (vídeo acima) que, tanto em São Paulo quanto no Amazonas, os músicos que a acompanham (?) fazem das tripas coração tentando manter um mínimo de dignidade na apresentação. O constrangimento dos músicos é visível, mas Dona Vanusa parece não estar preocupada nem com eles nem com as pessoas na platéia. Ao menos no primeiro episódio, houve muitas explicações e justificativas, mas não houve um mea culpa, muito menos um pedido de desculpas. Vanusa é apenas uma patética mulher de meia-idade que parece não admitir o próprio fracasso.

Por menos que se deseje sentir piedade, este é o único sentimento que devemos ter por uma pessoa que depois de tanto afirmar que errar é humano, volta a incorrer no mesmo erro. Esta senhora é nada mais, nada menos, que digna de pena.

E o que dizer daqueles que possibilitaram que outro erro acontecesse, que ao dar a ela uma nova chance prejudicaram os que tinham suas melhores expectativas no resultado do trabalho de alguém comprovadamente incompetente? Os que permitiram que um novo erro acontecesse não se importaram em constranger a pobre senhora, expondo-a novamente ao ridículo, nem em frustrar os esforços daqueles que tentaram impedir o naufrágio remando até mesmo contra a correnteza.

A esses, só posso repetir: “Errar é humano, mas insistir no erro é burrice”.