Olá!

Bem vindos ao diário de uma brasileira em Timor-Leste - uma meia-ilha no outro lado do planeta que a todos encanta com a magia do canto de uma sereia.
Ou seria o canto de um crocodilo? Bem... em se tratando de Timor, lafaek sira bele hananu... :-))

sábado, 30 de janeiro de 2010

29 de janeiro de 2010 – A Faxina

Hoje, Senhorinha, a tutora do Profep, propôs que fizéssemos uma limpeza geral na sala e arredores. Fomos todos com roupas de guerra, armados de baldes, esfregões e muitas latas de lixo, além de litros de desinfetante. Como estou chegando agora, quase três meses depois dos primeiros do grupo, já peguei as coisas mais ou menos arranjadas, mas ainda há muito trabalho pela frente. E não me refiro apenas à parte pedagógica do programa, mas também à manutenção de um ambiente agradável de trabalho.

Os timorenses, assim como os brasileiros, não têm o bom hábito de jogar o lixo em lugares apropriados, e havia verdadeiras montanhas de garrafas de água mineral, papéis e dejetos dos mais variados – até uma pia de louça branca – espalhados pelo que seria o jardim do INFPC. Fo’er hotu-hotu! (Tudo sujo!) dizia eu à nossa faxineira timorense que se dobrava de rir cada vez que me ouvia falando meu Tétum tati-bi-tati. Mesmo assim consegui achar uma vassoura extra (ai-saar) e um grande latão de lixo.

No Profep somos seis professores e uma tutora. Hoje, dois estavam doentes e quando começamos a limpeza, dois saíram para comprar panos e sabão e uma foi dar atendimento a um professor cursista, daí ficamos eu e Senhorinha, as mais velhas do grupo, pegando no pesado das oito da manhã à uma da tarde. Claro que todos ajudaram, mas no fim do dia meu corpo parecia ter sido passado na máquina de moer.

E por falar em professor brasileiro doente, há uma colega de Física que está no Hospital Guido Valadares com dengue hemorrágica. Ela já estava doente quando cheguei, mas até passou lá em casa no Domingo e disse estar sentindo-se melhor. Não sei o que aconteceu, mas a moça foi piorando, piorando, até ter que ser internada. Os timorenses, assim como os brasileiros, mantêm água empoçada a céu aberto e proliferam os criadouros do aedis egiptus... Um dos professores do Profep que estava doente na hora da faxina, recuperou-se à tarde, e encontrei-o no Hotel Timor participando de um evento da Qatar Airways onde alguns colegas compraram passagens para Paris por $ 1,400 USD. O colega do Profep foi sorteado numa promoção qualquer e ganhou uma viagem a Londres. Chato, né? Bem, não sei quanto está a passagem pra Europa comprada no Brasil, mas estou certa que pode ser parcelada a perder de vista e não vi vantagem nos preços oferecidos aqui. Além do mais, Paris eu já conheço e não vou viajar pra Europa estando na Ásia. Quero mais é ir pra China, Índia, Tailândia... Mas do jeito que brasileiro adora uma promoção, teve até quem comprasse passagem para o Brasil!

À noite, fui com Betão e Erivelto ao One More Bar, um barzinho “das antigas” e que agora serve uma pizza bem aceitável. Comemos a Seafood Special que além de peixe e de diversos frutos do mar, tem também a pimenta adocicada tão usada na comida indonésia. Música ao vivo, com direito a “Assim sem Você” no melhor Português de Timor, ou seja, demoramos um bom tempo até perceber que cantavam em nossa língua. Faz parte...

28 de janeiro de 2010 – Mamãe Rama


Hoje foi o dia de almoçar com a Rama. Aquela linda jovem iraniana/australiana que ensinava dança do ventre às professoras brasileiras, comparecia a todas as festas e jogava sinuca com os homens que deliravam com seus decotes não existe mais. Em seu lugar nasceu uma linda mulher que acaba de dar à luz sua segunda filha. Kiana, a mais velha, já vai fazer três aninhos e Leonor nasceu há pouco mais de um mês. Rama, naturalmente, está muitos quilos acima do peso de 2006, mas continua belíssima e o brilho que traz nos olhos não existia antes. É a fisionomia de uma mulher feliz e realizada. Quantas lembranças boas, a começar pelo lugar do nosso encontro – o Castaway, que também chamávamos de Padi Dive, pois lá funcionava um curso de mergulho. O espaço para as mesas foi ampliado, mas fora isso, tudo continua igual, até o cardápio de sanduíches. Agora falta eu conhecer Bruno, o marido, e as meninas que só podem ser muito bonitas.

No fim da tarde, não sei porque me deixei convencer pelo Roberto a ir caminhando até o Cazbar. Nossa casa fica quase na entrada do caminho para Areia Branca, mas dali ao Cazbar é uma caminhada de quase uma hora. Pra completar, eu não trouxe tênis e resolvi usar um Crocs – sem meia – e essa foi uma péssima escolha. Como o sapato é vazado, meus pés se enchiam de pedrinhas e a caminhada teve um toque de tortura. Mas tudo fica parecendo pequeno quando nos deparamos com o pôr do sol... A internet está cheia de fotos tiradas por pessoas de todas as nacionalidades e que aqui estiveram diante desse milagre diário de beleza inigualável. Lorosa’e pode significar sol nascente, mas é o sol poente que enfeitiça os malaes que nunca se esquecem dessa meia ilha e dessa gente sorridente.

27 de janeiro de 2010 – Túnel do Tempo



Já vivi em muitos lugares diferentes nesse planetinha. No Brasil, já morei em Pernambuco, Amapá e São Paulo e fora dalí, morei nos USA e aqui em Timor. O engraçado é que nunca havia vivido em um lugar e retornado quatro anos depois! O máximo de tempo que passei longe do Rio de Janeiro foi um ano e jamais voltei a Recife, Macapá, ou Filadélfia depois que saí desses lugares.

Passei quatro anos com o corpo longe de Timor, mas a alma continuava, em parte, por aqui, e talvez por isso as pessoas estranhem quando vou procurar – e encontro – a exata prateleira onde ficava determinado artigo no mercado ou quando falo uma frase inteira em Tétum.

Hoje fui almoçar com Diane que continua com a mesma carinha de menina e o tipo bem brasileiro numa mistura de europeu e índio, típico do Pará. Foi ótimo reencontrar Diane, relembrar os primeiros tempos do nosso grupo em Dili e, claro, comer a torta de chocolate do Café Aroma. Simone tinha me pedido uma sugestão para o almoço e, claro, pedi que fizesse frango na cerveja, uma de suas muitas especialidades, e foi o que eu e Diane almoçamos lá.

Mais tarde saí com Betão atrás de mais um móvel que me ajudasse a organizar as coisas nesse quartinho minúsculo e acabei comprando um armário pequeno exatamente igual a um que deixei em Akadiru Hum há quatro anos. Quando voltar para casa vou deixar esse aqui de novo, mas preciso ter um lugar para guardar toda a tralha que trouxe do Brasil. Só de frascos de esmalte devo ter trazido uns dez!

Enquanto fazia hora para esperar pela entrega do móvel, fomos até o Delta, o primeiro bairro onde vivi em Dili, rever o mercado Leader. Parece bobagem, mas há alguns lugares aqui onde entro e as lembranças chegam aos borbotões. Revi o dia do primeiro toque de recolher – à época, isso era ainda relativamente comum – e eu e Tarcísio fomos os primeiros a chegar à casa e vimos que quase não havia água, além de alguns mantimentos, e corremos ao Leader pra nos abastecer. Encontrei a mesma cadeira de praia comprada pelo Cid e que ele carregou consigo quando voltou ao Brasil apenas três meses após nossa chegada.

Ainda não tive oportunidade de ir até a velha “casa rosada” no Delta 2, onde passei meus primeiros seis meses aqui, mas creio que vá ser um reencontro emocionante. Será que a Lura, nossa empregada que lavava a louça com a água recolhida da chuva, ainda estará tecendo táis em sua casinha escura?

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

26 de janeiro de 2010 – Pouco Céu e Muitas Estrelas



Depois de dormir uma noite inteira sem levantar com cólicas intestinais, me senti quase nas nuvens. Acordar de bom humor não é uma constante no meu dia a dia, mas de vez em quando, em ocasiões especiais, isso acontece. Agora que os professores brasileiros têm um carro da embaixada pra levar e trazer pro trabalho, não posso me atrasar e desdenhar essa deferência tão especial, daí fui caminhando até o ponto (em frente ao Hotel Venture) numa disposição completamente diferente da de ontem, quando ainda me sentia um trapo.

Hoje tivemos uma reunião para debater um texto. A escolha do tema – Identidade – foi feita pela Rosilene, a professora de Português do Profep, que foi minha anfitriã ontem. Indicou a minha mesa, me ofereceu o texto para ler e ainda mostrou as fotos de uma visita às escolas em Liquiçá feita Sábado passado. Ainda está muito cedo para que eu possa afirmar alguma coisa sobre o trabalho ou os colegas, mas a recepção foi boa. Hoje, o colega-anfitrião foi o Alan, professor de Filosofia. Ele é o único do grupo, além de mim, que já tinha estado em Timor pela CAPES, e como trabalhava exatamente nesse programa, me explicou uma porção de particularidades que ontem, numa conversa inicial com a tutora, Senhorinha, tinham ficado ainda precisando de mais esclarecimentos. Por acaso, os três colegas citados são do Rio Grande do Sul, barbaridade chê!

Numa saidinha para fumar durante um intervalo, encontrei um jovem que trabalhava aqui em 2005, Alarico, que me reconheceu e imediatamente perguntou por Tarcísio e Raimundo. “Tilun-boot!” (orelhudo) disse ele ao lembrar como o Tarsa chamava o Rai, e riu aquele riso gostoso que só os timorenses sabem rir, um riso meio envergonhado, como se desculpasse por achar a coisa engraçada. O carinho desse rapaz ao lembrar-se dos amigos brasileiros me fez pensar em como, num céu pequeno demais para tantas estrelas, apenas aquelas que brilharam por verdadeiro mérito deixaram a marca que muitos desejavam (e poucos conseguiram) no coração do povo timorense. Em 2005 houve uma queda de braço entre egos elevadíssimos, e sempre me perguntei, “Pra quê?”. Todos ganhavam a mesma merreca e a luta para aparecer individualmente acabou comprometendo o trabalho de todo o grupo. Quem lucrou com isso? A fila andou e os nomes que estão impressos no material que hoje é distribuído por todo o país são os de Michelle Caldeira de Souza Silva (Linguagens e Códigos), Raimundo Santos Castro (Matemática e Lógica), Tarcísio Tinoco Botelho (Fundamentos da Educação) e Salvador Alexandre Magalhães Gonzaga (Organização do Trabalho Pedagógico), todos profissionais da melhor espécie, educadores de primeira, que trabalharam pelo bem coletivo sem se preocupar em receber coroas de louros. Onde estão os nomes daqueles que colavam nos coordenadores da CAPES como sanguessugas ou faziam tudo para aparecer em qualquer oportunidade? Passaram em branco ou desapareceram na branca areia da praia de Areia Branca.

Hoje também foi o dia de "inaugurar" a nova casa de Simone e Levi. Fomos eu, Roberto e Marina a uma sessão de cinema e pipoca na mansão dos Assis (rss) para assistirmos ao filme Balibo, sobre os cinco jornalistas australianos mortos pelas milícias indonésias em 1975 (http://fessora.multiply.com). A casa é relativamente perto da nossa e nem de longe lembra a casinha em Bebonuk onde eles moravam em 2005. Tudo está novinho em folha e a casa é mais espaçosa, mas ainda há muito para ser feito. Com o jeitinho especial de Simone para transformar pedra em ouro, a casa vai ficar fantástica em muito breve :-))

25 de janeiro de 2010 – O Manjar de um Anjo



Hoje foi um dia importante, pois foi meu primeiro dia de trabalho no Profep. Desde 2005 eu desejava fazer parte desse projeto, mesmo quando Michelle dizia que “algumas pessoas nascem para ser felizes, e outras nascem para trabalhar no Profep”. Sei que o trabalho é estressante, sei que a cobrança é pesada, sei que o horário de trabalho é puxado... vai ver que não nasci pra ser feliz... Bem era só uma brincadeira já que Michelle, Sandra Beiju, Jaílson, Lúcia Inês e outros pioneiros do Profep -Timor fizeram um excelente trabalho. A boa e serena Wanda deixou saudades por aqui e é lembrada até hoje, não apenas como a condutora desse trabalho de qualidade, mas também como uma pessoa equilibrada e amiga.

O progresso da cidade parece ainda não ter chegado ao Instituto Nacional de Formação de Professores e tudo parece estar do mesmo jeitinho, parado no tempo. Até a buraqueira da entrada é a mesma. As escadas de junção entre os prédios que foram sendo anexados ao INFP sem planejamento, continuam com seus degraus irregulares e só a providência divina pode justificar que até hoje ninguém tenha quebrado o pescoço por ali. Ainda não encontrei com o Sr. Armindo, mas sei que andou perguntando por Tarcísio e preciso dizer-lhe que o Tarsa casou e mandou-lhe um forte abraço.

Hoje também foi importante, por ter sido o dia em que curei uma diarréia que me atormentava há uma semana. Fui me consultar com uma médica cubana que dá plantão duas vezes por semana na Casa Vida e, claro, foi Simone quem arranjou tudo. A médica, jovem e simpática, me ouviu falando em Português o mais vagarosamente possível e respondeu num Espanhol também em slow motion. Disse que eu tive “diarrea de los viajeros”, coisa que eu nem sabia que existia, mas facilmente curável com um antibiótico. Como passei muito tempo me esvaindo em água, a doutora passou também um soro hidratante e logo me senti melhor.

Agora, sem dúvida alguma, o fato mais importante do dia, e que me curou por completo de qualquer mal, foi ter provado um manjar recebido das mãos de um anjo. Ainda não eram sete da noite quando ouvi baterem na minha porta. Pensei que fosse um dos meninos e mandei entrar. Lá vinha Simone, na carreira depois de um dia exaustivo de trabalho e a caminho de uma casa para onde se mudou há dois dias, me trazendo um pote cheio de sopa! Disse que a médica comentou que eu não podia comer comida condimentada e por isso ela fez uma sopinha de legumes para eu me alimentar bem. Se alguém me contasse que existe uma pessoa como Simone acho que eu não acreditaria, mas se você estiver por aqui lendo meu blog sem conhecê-la, por favor, creia que ela é real, mas terá que vir até Timor-Leste para constatar. E não é fácil identificá-la: Simone prende as asas nas costas e solta os cabelos por cima pra disfarçar já que é um anjo muito modesto e fica sem graça quando recebe agradecimentos ou elogios.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

24 de janeiro de 2010 – Inauguração da Ruela do Erivelto




Comecei o dia indo a um culto organizado por Simone. Ela vivia numa casa na entrada do caminho para Areia Branca quando começou a acolher meninas vítimas de abuso sexual. O números de moças ficou tão grande que ela e Levi decidiram deixar a casa só para elas e alugaram outra para a família, que ainda está na fase de finalização das reformas. Enquanto isso, estão em casa de amigos, mas continuam se reunindo com as moças todos os Domingos pela manhã, e fomos, eu e Roberto, participar da reunião de hoje, que é um dia especial: hoje é o primeiro aniversário de Angel, a primeira criança nascida na Casa Vida. A mãe, de 14 anos, foi estuprada pelo próprio pai e a princípio queria dar a criança para adoção. Simone tentou, mas não conseguiu achar alguém que quisesse assumir um bebê fruto de um incesto e ofereceu todo o apoio possível à mocinha que deu seu depoimento emocionado durante o culto de hoje. À tarde houve a festa de aniversário propriamente dita, mas não pude ir porque Roberto convidou alguns professores da missão para a inauguração de seu novo quarto e, além de aproveitar a rebarba e inaugurar o meu também, queria conhecer melhor os colegas.

Os primeiros a chegar foram Gladcya e Sansão, um casal do Ceará. Ela, professora de Português no Procapes, eu já conhecia do dia da entrevista em Brasília, e ele é casado com ela e está aqui só para acompanhar a esposa. Depois chegaram Fábio e Rosilene, ambos gaúchos e também professores de Português. Fábio já esteve aqui na missão 2008/2009 e agora está acompanhado pela namorada, Rosilene, que será minha colega no Profep. Vieram ainda Aurélio, professor de Português em Minas Gerais; Lucimar, professora de Português em Mato Grosso do Sul e João Cleto que, apesar de ser professor de Biologia em São Paulo, escreveu um livro sobre Tétum – Guia de Conversação. Pelo visto, o Betão se entrosou mais com os linguistas do grupo. Aurélio e Cleto eu também conheci em Brasília, mas Lucimar eu conhecia daqui mesmo, de Timor, em 2005. Apesar de viver em MS, a moça é carioca e arrasava nas festas dançando até furar as sandálias.

O grupo decidiu fazer uma votação para escolher o nome que escreveremos numa placa para indicar o local da tripla residência de brazucas – Erivelto, eu e Roberto – e o vencedor foi “Ruela do Erivelto”. Claro que, tendo sido o “descobridor” e primeiro morador na casa, o amazonense mereceu a honraria.

Em meio às brincadeiras, obviamente que o papo acabou se direcionando para o trabalho da missão brasileira e, pelo que entendi, esse é que precisa ainda se direcionar para algum ponto. Não quero tirar conclusões precipitadas, mas de acordo com o que relataram os colegas, apesar de Timor ter-se reestruturado tão bem nesses últimos quatro anos, como pude constatar em minhas primeiras andanças, em termos de educação, o progresso por aqui ainda anda a passos lentos e pouco ou quase nada mudou na administração do MECDJ (Ministério da Educação, Cultura, Desportos e Juventude) e parece que o documento, cujo trecho reproduzo a seguir, assinado em 2005 pelos queridíssimos Tarcísio e Raimundo, infelizmente continua bem atual...

“Sempre tivemos a preocupação em trazer para perto de nossas ações os professores timorenses que poderiam, com o término da Missão Brasileira, dar continuidade aos trabalhos do Instituto de Formação Contínua de Professores, garantindo-lhes assim, uma perspectiva de sustentabilidade. Porém, em nenhum momento, mesmo com vários pedidos que fizemos neste sentido, fomos atendidos. Quando pensamos na possibilidade de construção conjunta destas ações, vislumbramos a perspectiva deste país, em um futuro bem próximo, se auto-sustentar. Nos tem sido frustrante sermos apenas executores, pois quando nos propusemos a contribuir e a trabalhar em conjunto com o Timor, pensávamos em partilhar a gestão, no entanto, sem decidir pelo Timor. Neste instante é o que propomos para o IFCP: auxiliar na gestão do órgão, propondo modelos e estratégias dentro de um programa de formação das pessoas que o dirigem. Da mesma forma está sendo elaborado um organograma para o Ministério da Educação e Cultura do Timor-Leste, com intuito de otimizar o trabalho.”

Eta saudade monstra que eu tenho desses dois meninos... meus filhotes em Timor... sempre!

23 de janeiro de 2010 – Caz Bar



A gente nunca sabe como encontrar uma casa para alugar em Dili. Não há jornais com classificados e se há corretoras eu ainda não sei. Há sempre alguém que disse, que viu, que ouviu dizer e acaba-se conseguindo um lugar para morar. Dessa vez, foi um colega, professor de Biologia do Amazonas, Erivelto, quem achou a casa do padre.

Eu já “conhecia” Erivelto antes mesmo de cogitar em retornar a Timor pela CAPES. Ele veio pra cá, pela primeira vez, com o grupo 2008/2009 e mantém um blog (http://eriveltotrygon.blogspot.com) onde deixa um relato de suas impressões sobre o país e sobre o trabalho que desenvolve aqui, e eu costumava ler suas postagens. Nos encontramos pessoalmente em Brasília, no dia da entrevista para a seleção da CAPES e achei-o logo simpático. Pois acabamos sendo vizinhos. São quatro quartos no fundo de um beco cuja entrada é difícil até de se notar. No primeiro mora um timorense que acredito que seja aparentado do padre, no segundo fica o Roberto, no terceiro fico eu e no quarto está o Erivelto. Em frente aos quartos há um pátio bem simpático com uma parte coberta por sapê e nesse espaço vive Chico, o menor e mais feioso macaquinho de Timor-Leste. Nem preciso dizer que já adotei o macaco que quando me vê faz denguinho se enrolando num pano imundo dentro da gaiola e depois mostra a carinha magra de olhos redondos e expressivos, e fica a jogar beijinhos. Na segunda-feira vou providenciar uma gaiola maior para ele e enquanto eu estiver por aqui esse bichinho vai ter frutas e água fresca todos os dias.

Voltando ao Erivelto, ontem à tardinha, depois de mais um dia cheio de providências para minha acomodação e oficialização junto à embaixada, Erivelto propôs que fôssemos – eu, ele e Betão – acompanhar o pôr do sol na praia de Areia Branca, bebendo uma água de côco no Caz Bar. Como rejeitar um convite desses?

A estrada para Areia Branca está irreconhecível, ao menos nos primeiros 500 metros. Agora pode até ser chamada de estrada, já que antes era pouco mais que uma trilha. É preciso ver para crer. Depois desses 500 metros (cálculo no olho...), há um desvio porque a estrada está em obras, e a partir daí volta a ser o mesmo velho e esburacado caminho de antes, mas já é um enorme progresso.

A praia está cercada por um muro de tijolos vermelhos e de tantos em tantos metros há um portal de entrada ladeado por esculturas bastante interessantes. As barraquinhas estão com o visual uniformizado e são todas em madeira bem acabada com cobertura de palha. Fiquei de queixo caído. Só recomendo que, quem decidir comer alguma coisa nessas barracas após o pôr do sol, leve uma lanterna já que eu nem diferenciava os pedaços de frango dos croutons na minha velha e boa Chicken Ceaser Salad. Excelente a idéia do Erivelto!

22 de janeiro de 2010 – Calçadas de Dili



Meu primeiro dia em Timor-Leste em 2010 não foi muito diferente do primeiro dia em 2005. O corpo tentando driblar o cansaço e a sonolência, ao mesmo tempo que a adrenalina no organismo força o cérebro a um excesso de atividade. Acabei pegando no sono às nove da noite, mas acordei às cinco da manhã e não consegui dormir mais. Às sete da matina lá estava eu na rua para fazer um re-reconhecimento da área.

Em 2005, um ponto de encontro dos brazucas era o restaurante Erli, mais conhecido como “Dedinho”. Pela proximidade com a UNTL (Universidade Nacional Timor Lorosae), tornou-se uma opção fácil e barata para o almoço dos professores, com seu buffet farto e preços variando entre $1.50 e $3.50 USD. Um belo dia, alguém percebeu que a porção de arroz cuidadosamente arrumada em forma de cuia, era ajeitada com o dedo pela atendente e daí nasceu a denominação “Dedinho”. Esse apelido permaneceu e professores das missões de 2007 e 2008 continuaram a chamar assim o restaurante Erli. Pois bem, soube que o Dedinho não existia mais, assim como o City Café e o Exótica e resolvi sair em campo numa busca ao passado perdido.

Descobri que estou morando a poucos metros do restaurante Tropical, outra opção de almoço do antigo grupo. Esse continua igualzinho e acho que até o preço do Buffet é ainda o mesmo ($5.00 USD). O Banco ANZ mudou o logo e a cabine da polícia em frente ganhou uma nova pintura firmando a cooperação entre a ONU e o governo local. O City Café agora chama-se Katua’s Hotel e o restaurante é a la carte (dizem que bem caro). Alguns lugares permaneceram iguais, como a loja da Fujifilm onde tirei fotografia assim que cheguei aqui em 2005 (e repeti a dose hoje); outros mudaram radicalmente, como o centro cultural que era conhecido como “Casa Vermelha” e agora é “Casa Europa”, pintado de amarelo e com o símbolo da União Européia.

De repente me dei conta – desligada como sempre – que não estava tropeçando nem torcendo o tornozelo a cada três passos. Olhei para o chão e vi as calçadas. Eu estava caminhando há meia hora sem perceber que a rua está com o asfalto lisinho e que há meio-fio e calçadas para os pedestres. As calçadas são em vermelho e preto como a bandeira de Timor-Leste!

Comparo a emoção que senti nessa hora com a de uma mãe que, orgulhosa, vê que o filho cresceu o bastante para poder caminhar com as próprias pernas. Timor cresceu nesses quatro anos, amadureceu e quer mostrar essa autossuficiência pintando nas cores nacionais cada pequena realização. Talvez ainda esteja nos primeiros passos e um pouco cambaleante, mas vai firmando o pé com determinação. Fiquei tão feliz que até pedi que um grupo de rapazes posasse para uma foto em frente ao antigo cyber café do Sugar que, segundo entendi, num diálogo em Português-Inglês-Tétum com eles, teve problemas aqui e foi obrigado a voltar para a China.

Continuei a caminhada passando pelos correios e pelo Instituto Camões. O Palácio do Governo me pareceu maior, mas talvez seja só a impressão causada por uma pintura nova. O queimado “Hello Mister” continua no esqueleto, mas a feirinha em frente está com ares de “camelódromo” de tão organizada. Ainda não eram 8:00h e o movimento de carros era quase nenhum e resolvi atravessar a rua para ver o que havia agora no lugar do Erli e... surpresa! O “Dedinho” continua lá, firme e forte, fora apenas um alarme falso. Já decidi: assim que começar a trabalhar, meu primeiro almoço será no velho e bom “Dedinho” e vou fazer questão de pegar um bom pedaço de frango dourado no açúcar pra me sentir novamente “em casa” no Timor-Leste.

21 de janeiro de 2010 – A Casa do Padre



Como canta a Noviça Rebelde, Julie Andrews, “I must have done something good” (Devo ter feito alguma coisa boa) para merecer cruzar meus caminhos com algumas pessoas mais que especiais. O casal Simone e Levi, que me foi apresentado por Vavá, pai de Simone, e que na realidade nem conheço ainda pessoalmente, são três bons exemplos disso. Outro, mais recente, é o Roberto Eduardo – Betão – Tio Chico.

Roberto surgiu na lista de e-mails dos selecionados para a entrevista na CAPES do dia 13 de agosto de 2009 onde escreveu, “Olá! Alguém aqui é do Rio?”. Convocação carioca, claro que respondi e trocamos telefones para marcar encontro no Santos Dumont e rachar o taxi quando chegássemos à Brasília. De cara gostei da cara de bom menino, do jeitão de ex-aluno do Colégio Militar e aconteceu uma camaradagem imediata. Depois, quando ficamos os dois no cadastro de reserva e decidimos lutar pelo nosso direito – seriam convocados 50 professores e só chamaram 40, além de outros desmandos – fomos juntos novamente à Brasília, e continuamos unidos na batalha que, pelo nosso ponto de vista, acabamos vencendo. Estamos juntos agora aqui em Timor, morando em quartos contíguos na casa do padre.

O problema de acomodação em Dili se intensificou nesses últimos 5 anos. Os hotéis e as boas casas preparadas para receber colaboradores estrangeiros, tornaram-se inviáveis para os professores brasileiros. Quase como uma adaptação às necessidades dos cooperantes menos abastados, algumas famílias timorenses construíram uma versão local de condomínios. São quartos pequenos com banheiros individuais e uma cozinha coletiva. Eu mesma já havia morado por 6 meses, entre 2005 e 2006, numa residência como essa na casa do casal João e Beth em Akadiru Hum.

A idéia inicial era que eu, ao chegar, ficasse na casa da Simone até encontrar uma acomodação definitiva. Com tantos adiamentos, acabou que a casa entrou em reforma e a própria família está hospedada com amigos. Simone sugeriu que eu ficasse na casa de outra missionária, mas depois decidiu que eu deveria ficar mais próxima dela na Casa Vida e reservou um quarto no Hotel Ventura que fica em frente ao Café Aroma. Ao ver esse fica-não-fica, Betão demonstrou, mais uma vez, sua amizade me oferecendo a vaga que conseguira para ele próprio numa casa onde já vive outro colega da missão brasileira. Além do bate-boca com a tutora do meu programa (que não é o mesmo dele) e da insistência com a embaixada para que eu fosse devidamente recepcionada, Betão tomou mais uma vez as minhas dores abrindo mão do local onde iria morar para que eu tivesse onde ficar já à chegada. Como os bons sempre vencem (quero crer que isso seja real), acabou que vai vagar outro quarto e meu amigo muda-se para cá amanhã.

O quarto deve ter uns 25 metros quadrados e, além da mobília básica e do banheiro privado com chuveiro de água quente, tem TV a cabo, ar condicionado, mini-mini-mini-frigobar e garrafão de água mineral. Tudo, energia elétrica incluída, por 300 dólares. Melhor do que isso, só no meu apartamento no Rio de Janeiro. O dono da propriedade é um padre que construiu esses quartos e deu para um irmão administrar, daí o nome “Casa do Padre”.

Pois é... “I must have done something good” para alguém lá de cima gostar tanto de mim.

21 de janeiro de 2010 – A Chegada






A primeira pessoa que vi no Aeroporto Internacional Presidente Nicolau Lobato foi o Betão, também conhecido como “Tio Chico”, o cara mais boa praça que se possa imaginar. Eu ainda esperava pela liberação da bagagem, mas fui olhar no saguão e lá estava meu amigo, carioca de primeira linha, a acenar para mim. A segunda foi Simone...

Voltei pra pegar as malas e dizia a mim mesma, “Não vou chorar! Não vou chorar! Não vou chorar!”. Não deu certo. Começou a passar um filme na minha mente, como naqueles flashs em que se imagina rever toda uma vida em segundos. Revi minha chegada aqui há quase cinco anos quando procurei por Simone em meio à multidão e ela não estava lá. Já estava a ponto de fazer beicinho de decepção quando surgiu a Roseli (Forganes), que me reconheceu das fotos no Orkut e veio me abraçar, dizendo que Simone estava atrasada, mas que telefonaria naquele instante para ela. Em poucos minutos apareceu a velha caminhonete do Levi e de lá saíram Simone, Sarah, Belinha e mais uma meia dúzia de crianças timorenses vestidas em táis e carregando bandeiras do Brasil e de Timor-Leste. Chega! Isso é passado!


No presente, hoje, Simone não se atrasou e abraçá-la de novo foi tão bom quanto um carinho de mãe. Sem bandeiras nem fanfarras – não era mais a chegada de um grupo pioneiro da cooperação brasileira, pronto para reconstruir a educação num Timor devastado pela guerra – apenas a volta de uma amiga saudosa pronta para recolher os pedaços aqui deixados em 2006. A professora Telma só chega na próxima segunda-feira, 25 de janeiro, até mesmo porque não havia ninguém da CAPES para me receber.


O Roberto avisou à embaixada e mandaram um motorista me buscar, logo, me achei na obrigação de me apresentar na embaixada assim  que me acomodei, mas como a tutora do meu programa tinha dito a ele que não fora avisada oficialmente de minha chegada – e, pelas costas dele, “Se é amiga dele, ele que vá buscá-la no aeroporto” – achei que precisava organizar minhas coisas e descansar um pouco antes de fazer um contato “oficial” com o pessoal local da CAPES. Com Brasília, não! Mal deixei as malas em casa (*), fomos – eu e Betão – abrir uma conta no Banco ANZ. Já saímos dali para um cyber café e cadastrei minha conta no BEX, além de mandar um e-mail para a coordenação no Brasil participando minha chegada e informando os dados bancários. Quero só ver em que dia vou receber esse primeiro pagamento...

Voltando a falar de Simone, fui tomar café da manhã com ela e Isabela – que já está grande e tornou-se uma devoradora de livros – no “Café Aroma”, um novo local para Simone continuar distribuindo sua generosidade. Ela agora trabalha com vítimas de violência sexual e mantém uma casa com meninas entre três e dezoito anos que foram estupradas por algum membro da própria família e que, depois de denunciarem a violência, não têm mais para onde ir. Como a casa já estava lotada e algumas moças passando dos dezoito, Simone montou um pequeno, mas muito simpático restaurante, onde ensina culinária às jovens timorenses que tiram daí seu sustento, além de morarem na Casa Vida, atrás do próprio Café Aroma. Resumindo: Simone resgata as meninas violentadas, dá-lhes abrigo, ensina-lhes uma profissão e oferece-lhes o trabalho para que possam seguir por conta própria a partir daí. Tudo isso sem contar com os bebês, frutos desses estupros, que ao nascer também são acolhidos por essa mulher mais que especial. No Sábado haverá a festa de um ano da primeira criança nascida na Casa Vida e Simone já está fazendo os convites.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Ao redor do mundo: 18 a 21 de janeiro de 2010




Não há necessidade de fazer um diário detalhado de uma viagem como essa. Cansativa, ponto final. Sempre poderia ter sido pior... cheguei inteira ao meu destino e é isso que importa.


Mas há algo que deve ser registrado aqui para que eu mesma nunca me esqueça: nunca tome o vinho nacional servido nos vôos da LAN Chile! Um comissário de bordo, lindo e sorridente, chega com um carrinho de vinhos chilenos, “hablando” – “¿Quieres un poco de vino?” – como resistir? O triste é que, quando a cabeça não pensa, o resto do corpo é que padece e já desembarquei em Santiago me sentindo péssima.  Desisti do city tour e só encontrei um pouco de alento num restaurante com área para “los fumadores” e acesso gratuito à Internet. Intercalando esse point com esporádicos cochilos nos sofás da área de embarque, já entrei no avião para Sydney num estado deplorável. Só melhorei um pouco depois de encher todos os saquinhos de vômito disponíveis e finalmente dormir um pouco durante as 18 horas de vôo.

O curioso foi que perdi uma manhã! Saí do Chile à noite e cheguei à Austrália, também à noite, sem ter visto o sol nascer nesse meio tempo. Quero retornar ao Brasil via Bali, Hong Kong, e Johannesburg para recuperar essa manhã perdida.
Em Sydney foi uma correria só. Três horas em trânsito até voar para Darwin e durante esse tempo tive que retirar as malas e passar pela imigração. Primeiro, esqueci meu cartão de vacinação e fui para a “quarentena”. Por sorte, trazia uma cópia xerox que foi aceita. Daí descobriram que uma das malas pesava 34 kg, quando o máximo permitido seriam 32 kg. Como a outra mala pesava 26 kg, tive que tirar 2 kg de uma mala e colocar na outra. Tudo bem, duplamente falha minha, mas abrir as malas, cuidadosamente fechadas e embaladas em plástico, pra fazer essa transferência num salão lotado foi penoso. Embarquei em cima da hora, irritada, exausta e ainda nauseada.


Meu oásis foi o hotel em Darwin. A CAPES não paga hotéis nessa viagem já que o edital só prevê a cobertura da passagem, mas seria impraticável, para mim, passar 17 horas num aeroporto minúsculo, depois de 40 horas de viagem, empurrando um carrinho de malas sozinha – eu teria que carregar tudo até para dentro do banheiro, já que não teria ninguém para tomar conta das minhas bagagens. Achei que o custo-benefício de um pernoite no hotel do aeroporto era viável e banquei a estada do meu bolso. Uma tarde na piscina e uma noite numa cama confortável foram renovadoras para o meu corpo e meu espírito. O carro do hotel me pegou no aeroporto e me levou de volta na manhã seguinte e se a CAPES acredita que a “brasileirada” (termo usado pela coordenadora ao referir-se aos professores brasileiros em missão oficial no Timor-Leste) prefere ficar passeando no aeroporto durante esse trânsito em Darwin, é porque também acredita em Papai Noel e no Coelhinho da Páscoa.

Só pra manchar os bons momentos na cidade, a saída para Dili foi traumática. Eu sabia que teria direito de despachar apenas um volume de 20 kg e que pagaria por tudo que excedesse esse limite. Claro que sempre fica uma esperança de rolar um “jeitinho brasileiro” e de negociar, ao menos, um desconto. Comigo, não rolou e paguei pelos meus 40 kg de excesso sem ter nem como reclamar. O que eu não sabia era que teria que passar duas vezes pelo raio-X, e depois de atravessar o mundo sem problemas, na segunda passagem, tive “excesso de líquidos” na bagagem de mão e fui obrigada a despachar também essa maleta. Não adiantou argumentar que todos os frascos continham menos de 100 ml, já que prenderam até as miniaturas de perfumes (lacradas) que comprei no free shop do avião. Eles têm um saquinho daqueles zip-lock pequenos, e o total de frascos tem que caber no tal saquinho. O que sobrar deve ser descartado ou despachado, e como eu não ia perder meus perfumes novinhos, paguei por mais 10 kg de excesso. No final, saiu como se eu tivesse comprado os perfumes na Sacks do Rio Sul. Gande negócio!

O importante foi que, com todo o cansaço, prejuízo, mal estar... estou de volta a Timor. CHEGUEI GALERA!!!

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Encontros e Despedidas



Por quatro anos eu não pude ouvir essa canção sem chorar. Era só ouvir a voz de Maria Rita a entoar “Mande notícias do mundo de lá...” e me desmanchar em lágrimas do lado de cá. Essa música me carregava de volta ao Aeroporto Nicolau Lobato e eu quase podia sentir o abraço apertado do Rai, ver os olhos de mel da Michelle ficando vermelhos, e os meus olhos se enchiam d’água.

Ontem, fui me despedir de um velho e fiel amigo: o mar do Rio de Janeiro. A praia não estava muito cheia e coloquei minha cadeira quase na beira da água, até para poder ficar mais perto dele, deixá-lo se despedir de mim também.

Temos uma velha parceria, eu e esse mar. Minha mãe guarda fotos minhas, bem pequena, com uma ridícula touquinha de praia, brincando na areia com as conchinhas. Meus filhos já estão avisados que, no dia em que eu partir numa viagem que não sei se é longa, mas que certamente será definitiva, desejo que minhas cinzas sejam derramadas no mar. Nesse mar. No meu mar.

Desfrutei o misto de sol e brisa sem mágoas nem nostalgias. É apenas uma despedida breve, e sempre há a certeza que chegará o dia em que estaremos juntos para sempre. Eu mal ouvia o burburinho das conversas à volta ou dos vendedores apregoando seus produtos. Minha sintonia era com o mar e o único som que me afetava era o das ondas quebrando aos meus pés.

Sabe Deus porque resolvi colocar os fones de ouvido e foi só ligar o MP3 player que lá veio a Maria Rita, “Mande notícias do mundo de lá...”. Chorei mais uma vez com essa canção, sozinha na praia, em frente ao meu mar, mas fiz isso pela última vez. Não foi um choro melancólico, ou infeliz. Foi apenas pela emoção de ter finalmente me libertado do sentimento de despedidas e compreendido, afinal, que é chegado o tempo de encontros.







Timor-Leste:

"Me dê um abraço, venha me apertar
Tô chegando
Coisa que gosto é poder partir
Sem ter planos
Melhor ainda é poder voltar
Quando quero"


quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

18.153 km do Rio de Janeiro a Dili (capital do Timor-Leste)


Depois que uma amiga de minha mãe telefonou, preocupada por eu viajar exatamente quando está acontecendo a terrível tragédia dos terremotos no Haiti, lembrei-me do quanto os brasileiros desconhecem a geografia da Ásia – apesar do velho chavão de que são os americanos quem mais desconhece o mundo fora das próprias fronteiras – e resolvi colocar aqui a minha rota de viagem.

Para ir do Brasil a Timor, não vou passar nem perto do Haiti!
 
A seguir, o quadro de planejamento da viagem:




Abaixo, o mapa-múndi visto por um ângulo pouco comum. Editei-o para que se pudesse ter uma idéia da distância de Santiago do Chile a Sydney. Não é a toa que são necessárias mais de 18 horas de vôo.




1.    Rio – Santiago
2.    Santiago – Sydney
3.    Sydney – Darwin
4.    Darwin – Dili


Finalmente, em zoom, o ultimo trecho da viagem:





terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Minha vida sem mim


Hoje estou exausta – e ainda estou no meio dos preparativos para a viagem! É numa hora dessas que invejo aqueles que se vão pra qualquer lugar com uma mochilinha e se viram tão bem quanto eu com quilos e quilos de bagagem.

Li em certo lugar, onde alguém mais sábio que eu dava dicas de viagem, que tanto faz se vai partir para uma temporada de um mês ou de um ano, a quantidade de roupas que se deve levar é a mesma. Isso faz todo o sentido do mundo... a não ser que se vá para Timor-Leste!!!

O texto estava num site sobre intercâmbio e fui parar lá procurando algum tipo de ajuda já que sou péssima para arrumar malas. Como a CAPES – quando interessa – me considera “bolsista”, nada mais natural do que me informar num lugar onde as F.A.Q. (Frequently Asked Questions) são a respeito de sapatos para andar na neve e de vestidos para usar no “prom” (promenade, o famoso baile de formatura nas escolas norte-americanas). Certamente, ninguém imagina que vá haver um “bolsista” brasileiro em qualquer escola timorense, ao menos, não por enquanto.

O fato de eu ter uma experiência prévia no país, às vezes mais atrapalha que ajuda. Tenho certeza que vou passar uns bons dias dizendo coisas como, “Cadê o City Café que estava aqui?”, “Vamos jantar no Exótica!”, “Que tal pegar um karaokê no AAJ?”. Quatro anos é um período de tempo considerável, principalmente num país em reconstrução como Timor. Provavelmente os antigos proprietários do City Café, do Exótica e do AAJ, montaram seus negócios num período em que ninguém pensava em investir em Timor-Leste e mais tarde venderam as concessões com uma boa margem de lucro. Será que o Sugar ainda tem a lan house ou já voltou pra China? Será que vou viajar ao Timor de 2010 só pra ficar com saudades do Timor de 2005?

Bem, minha experiência ajuda, por exemplo, quando sei que não há sapatos pra mim em Dili. Sou “pezuda”, calço 39, o que no Brasil é apenas um tamanho grande, mas que pode ser encontrado em qualquer sapataria do território nacional. Em Timor, terra de mulheres miúdas, meu tamanho de pé é quase uma aberração. Mesmo em Bali, por ser um centro turístico da Ásia, os sapatos em numeração correspondente ao nosso 39 podem ser encontrados, mas são vendidos, principalmente, para as mulheres australianas, e os preços são compatíveis com a renda delas, bem diferente da “bolsa” da CAPES. E qual a consequência disso? Estou olhando nesse momento para duas malas abarrotadas de sapatos!

No final, o mais complicado nem é arrumar as malas, mas sim, deixar a vida organizada por aqui. Uma hora é o carnê do IPTU que ainda não chegou, noutra é avisar à administradora dos cartões de crédito que minhas compras passarão a ser feitas em lugares, digamos, inusitados. Em 2005 havia apenas um supermercado em Dili que aceitava cartões de crédito. Quando o funcionário da Mastercard viu aquelas compras sendo feitas num lugar em que, possivelmente, nunca tinha ouvido falar, bloqueou o meu cartão e mandou um novo pra minha casa... aqui no Rio de Janeiro, claro. Claro, também, que ninguém da minha família se deu ao trabalho de abrir a correspondência e só descobri que o cartão estava bloqueado quando tentei pagar o hotel em Bali, durante as férias de verão na UNTL (Universidade Nacional Timor Lorosa’e, onde eu trabalhava).

Um filho vai ficar encarregado de pagar o IPVA do carro, o outro, de fazer o balanço da loja. Uma nora vai ter que ficar com uma procuração para acompanhar meu processo na Faetec, e a outra está encarregada do mais importante: manter limpa a areia dos gatos! Graças a Deus tenho a Da Guia que há 25 anos veio para ser babá dos meninos e hoje é minha babá. Ela é quem vai ficar com a incumbência de fazer essa casa funcionar. Mamãe ficará com as questões bancárias e meu sócio com os pagamentos referentes à loja. Ufa! Faltou alguma coisa? Certamente sim, mas estou cansada demais pra pensar nisso agora.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Um pouco de um tudo


Para quem chegar aqui por acaso e não souber de que país estamos falando...



Timor-Leste

Timor-Leste (República Democrática de Timor-Leste) é um dos países mais jovens do mundo, e ocupa a parte oriental da ilha de Timor na Ásia, além do enclave de Oecussi, na costa norte da banda ocidental de Timor, da ilha de Ataúro, a norte, e do ilhéu de Jaco ao largo da ponta leste da ilha. As únicas fronteiras terrestres que o país tem ligam-no à Indonésia, a oeste da porção principal do território, e a leste, sul e oeste de Oecussi-Ambeno, mas tem também fronteira marítima com a Austrália, no Mar de Timor, a sul. Sua capital é Díli, situada na costa norte.



Conhecido no passado como Timor Português, foi uma colônia portuguesa até 1975, altura em que se tornou independente, tendo sido invadido pela Indonésia três dias depois. Permaneceu considerado oficialmente pelas Nações Unidas como território português por descolonizar até 1999. Foi, porém, considerado pela Indonésia como a sua 27.ª província com o nome de "Timor Timur". Em 30 de Agosto de 1999, cerca de 80% do povo timorense optou pela independência em referendo organizado pela Organização das Nações Unidas.
A língua mais falada em Timor-Leste é o bahasa indonésio, seguido do tétum (mais falado na capital) que com o português formam as duas línguas oficias do país, o bahasa indonésio e a língua inglesa são consideradas línguas de trabalho pela atual constituição de Timor-Leste. Devido à recente ocupação indonésia, grande parte da população compreende a língua indonésia, mas só uma minoria o português.
Geograficamente, o país enquadra-se no chamado sudeste asiático, enquanto do ponto de vista biológico aproxima-se mais das ilhas vizinhas da Melanésia, o que o colocaria na Oceania e, por conseguinte, faria dele uma nação transcontinental.

História

De acordo com alguns antropólogos, um pequeno grupo de caçadores e agricultores já habitava a ilha de Timor por volta de 12 mil anos a.C. Há documentos que comprovam a existência de um comércio esporádico entre o Timor e a China a partir do século VII, ainda que esse comércio se baseasse principalmente na venda de escravos, cera de abelha e sândalo, madeira nobre utilizada na fabricação de móveis de luxo e na perfumaria, que cobria praticamente toda a ilha. Por volta do século XIV, os habitantes de Timor pagavam tributo ao reino de Java. O nome Timor provém do nome dado pelos Malaios à Ilha onde está situado o país, Timur, que significa Leste.
O primeiro contato europeu com a ilha foi feito pelos portugueses quando estes lá chegaram em 1512 em busca do sândalo. Durante quatro séculos, os portugueses apenas utilizaram o território timorense para fins comerciais, explorando os recursos naturais da ilha. Díli, a capital do Timor Português, apenas nos anos 60 do século XX começou a dispor de luz elétrica, e na década seguinte, água, esgoto, escolas e hospitais. O resto do país, principalmente em zonas rurais, continuava atrasado.
Após a Revolução dos Cravos, o governo português decidiu abandonar a ilha em agosto de 1975, passando o poder à FRETILIN (Frente Revolucionária de Timor-Leste) que proclamou a república em 28 de Novembro do mesmo ano. Porém, a independência durou pouco tempo. O general Suharto, governante da Indonésia, mandou tropas do exército invadirem a ilha. Em sete de Dezembro, os militares indonésios desembarcavam em Díli, ocupando brevemente toda a parte oriental de Timor, apesar do repúdio da Assembléia-Geral da ONU.
A ocupação militar da Indonésia em Timor-Leste fez com que o território se tornasse a 27.ª província indonésia, chamada "Timor Timur". Uma política de genocídio resultou num longo massacre de timorenses. Centenas de aldeias foram destruídas pelos bombardeios do exército da Indonésia, sendo que foram utilizadas toneladas de napalm contra a resistência timorense (chamada de Falintil). O uso do produto queimou boa parte das florestas do país, limitando o refúgio dos guerrilheiros na densa vegetação local.
Entretanto, a visita do Papa João Paulo II a Timor-Leste, em outubro de 1989, foi marcada por manifestações pró-independência que foram duramente reprimidas. No dia 12 de Novembro de 1991, o exército indonésio disparou sobre manifestantes que homenageavam um estudante morto pela repressão no cemitério de Santa Cruz, em Díli. Cerca de 200 pessoas foram mortas no local. Outros manifestantes foram mortos nos dias seguintes, "caçados" pelo exército da Indonésia.
A causa de Timor-Leste pela independência ganhou maior repercussão e reconhecimento mundial com a atribuição do Prêmio Nobel da Paz ao bispo Carlos Ximenes Belo e José Ramos Horta em outubro de 1996. Em julho de 1997, o presidente sul-africano Nelson Mandela visitou o líder da FRETILIN, Xanana Gusmão, que estava na prisão. A visita fez com que aumentasse a pressão para que a independência fosse feita através de uma solução negociada. A crise na economia da Ásia no mesmo ano afetou duramente a Indonésia. O regime militar de Suharto começou a sofrer diversas pressões com manifestações cada vez mais violentas nas ruas. Tais atos levam à demissão do general em maio de 1998.

Em 1999, os governos de Portugal e da Indonésia começaram, então, a negociar a realização de um referendo sobre a independência do território, sob a supervisão de uma missão da Organização das Nações Unidas. No mesmo período, o governo indonésio iniciou programas de desenvolvimento social, como a construção e recuperação de escolas, hospitais e estradas, para promover uma boa imagem junto aos timorenses.
Desde o início dos anos 90, uma lei indonésia aprovava milícias que “defendessem” os interesses da nação, no Timor-Leste, os exército indonésio treinou e equipou diversas milícias, que serviram de ameaça contra o povo durante o referendo. Apesar das ameaças, mais de 98% da população timorense foi às urnas no dia 30 de agosto de 1999 para votar na consulta popular, e o resultado apontou que 78,5% dos timorenses queriam a independência.
As milícias, protegidas pelo exército indonésio, desencadearam uma onda de violência antes da proclamação dos resultados. Homens armados mataram nas ruas todas as pessoas suspeitas de terem votado pela independência. Milhares de pessoas foram separadas das famílias e colocadas à força em caminhões, cujo destino ainda hoje é desconhecido (muitas levadas a Kupang, no outro lada da ilha de Timor, pertencente à Indonésia). A população começou a fugir para as montanhas e buscar refúgio em prédios de organizações internacionais e nas igrejas. Os estrangeiros foram evacuados, deixando Timor entregue à violência dos militares e das milícias indonésios.
A ONU decide criar uma força internacional para intervir na região. Em 22 de setembro de 1999, soldados australianos sob bandeira da ONU entraram em Díli e encontraram um país totalmente incendiado e devastado. Grande parte da infra-estrutura de Timor-Leste havia sido destruída e o país estava quase totalmente devastado. Xanana Gusmão, líder da resistência timorense, foi libertado logo em seguida.
Em abril de 2001, os timorenses foram novamente às urnas para a escolha do novo líder do país. As eleições consagraram Xanana Gusmão como o novo presidente timorense e, em 20 de Maio de 2002, Timor-Leste tornou-se totalmente independente.
Em 2005, a cantora colombiana Shakira gravou uma música-protesto intitulada de "Timor". A música, escrita e composta pela cantora, fala de como a comunicação social ocidental deu importância ao caso da independência de Timor-Leste há alguns anos, e como agora essa mesma comunicação social, televisões e rádios já não se interessavam por este país.
Em 2006, após uma greve que levou a uma demissão em massa nas forças armadas leste-timorenses, um clima de tensão civil emergiu em violência no país. Em 26 de Junho o então primeiro-ministro Mari Bin Amude Alkatiri deixou o cargo, assumindo interinamente a coordenaria ministerial José Ramos Horta, que, em 8 de Julho, foi indicado para o cargo pelo presidente Xanana Gusmão, pondo termo ao clima vigente.
A situação permanece razoavelmente estável devido à intervenção militar vinda da Malásia, Austrália, Nova Zelândia e à pressão política e militar de Portugal que tenta apoiar Timor-Leste no seu desenvolvimento.
José Ramos Horta era apontado pela imprensa portuguesa como um dos sucessores de Kofi Annan no cargo de secretário-geral da ONU. Ramos Horta não confirmou o seu interesse no cargo, mas também não excluiu a hipótese.
Na segunda volta das eleições de 9 de Maio de 2007, Ramos-Horta foi eleito Presidente da República, em disputa com Francisco Guterres Lu Olo, sucedendo a Xanana Gusmão no cargo.
A 6 de Agosto de 2007, José Ramos-Horta indica Xanana Gusmão, ex-presidente da república, como 4º primeiro-ministro da história do país sucedendo a Estanislau da Silva. Xanana Gusmão, líder do renovado CNRT, apesar de 2º classificado nas eleições legislativas de Junho com 24,10% dos votos (atrás dos adversários da FRETILIN de Francisco Lu-Olo), alcançou uma série de acordos pós-eleitorais com as restantes forças políticas da oposição que conferem ao seu governo um estatuto de estabilidade.
Em 11 de Fevereiro de 2008 Ramos-Horta sofreu um atentado perto da sua casa em Díli. Neste atentado, os guardas de sua casa mataram o ex-oficial do Exército de Timor-Leste, Alfredo Reinado (rebelado desde maio de 2006), acusado perante a Corte Suprema do país de homicídio, após a onda de violência causada por sua expulsão do exército junto com 598 outros militares por desobediência.
O mesmo grupo também é acusado de efetuar disparos contra a residência do primeiro-ministro do país, Xanana Gusmão, mas nada foi esclarecido ainda em relação a este segundo ataque, que não deixou vítimas.

Política

O Chefe de Estado do Timor Leste é o Presidente de Timor-Leste, que é eleito pelo voto popular para um mandato de cinco anos. Embora o papel seja largamente simbólico, o presidente não tem poder de veto sobre certos tipos de legislação. Após as eleições, o presidente designa o líder do maior partido ou coligação majoritária como o Primeiro-Ministro de Timor-Leste. Como chefe do governo, o primeiro-ministro preside a Conselho de Estado ou de governo.
O parlamento de câmara única é o Parlamento Nacional ou Parlamento Nacional, cujos membros são eleitos pelo voto popular para um mandato de cinco anos. O número de bancos pode variar entre um mínimo de 52 a um máximo de 65, embora excepcionalmente tenha 88 membros, atualmente, devido a este ser o seu primeiro mandato. A Constituição timorense foi decalcada da de Portugal. O país ainda está no processo de construção da sua administração e instituições governamentais.

Geografia

Timor-Leste possui um território de 18 mil km², ocupando a parte oriental da ilha de Timor. O país é muito montanhoso e tem um clima tropical. Com chuvas dos regimes das monções, enfrenta avalanches de terra e freqüentes cheias. O país possui 800 mil habitantes.
A ilha de Ataúro, ao norte de Díli, e o ilhéu de Jaco, a leste do país, também fazem parte do território timorense.

Clima

O Timor Leste possui um clima de características equatoriais, com duas estações anuais determinadas pelo regime de monções. A fraca amplitude térmica anual é comum a todo o território e só o regime pluviométrico tem alguma variabilidade regional. Podem considerar-se três zonas climáticas: a situada mais a norte é a menos chuvosa (menos de 1500 mm anuais) e a mais acidentada, com uma estação seca que dura cerca de cinco meses. A montanhosa zona central registra muita precipitação e um período seco de quatro meses. Por fim, a zona menos acidentada do Sul, com planícies de grande extensão expostas aos ventos australianos, é bastante mais chuvosa do que o Norte da ilha e tem um período seco de apenas três meses.

Economia

O investimento secular de Portugal na sua colônia na Insulíndia não foi suficiente para desenvolvê-la adequadamente, tendo esta permanecido pobre até aos nossos dias.
Foram, no entanto, construídas algumas infraestruturas de saúde, ensino e transportes depois da Segunda Guerra Mundial. O comércio de sândalo, uma das principais mercadorias do território perdeu importância e a sua única fonte de rendimento passou a ser uma modesta produção de café.
A contribuição dada pela Indonésia na construção de infraestruturas foi superior ao de Portugal, apesar de corresponder também a interesses próprios, como o do transporte mais rápido das tropas ou da absorção sócio-cultural indonésia e descaracterização da cultura própria timorense. No entanto, grande parte das edificações foi destruída pelas milícias pró-indonésias no período que se seguiu à declaração de vitória dos independentistas: bancos, hotéis, escolas, centros de saúde, etc. A já débil economia timorense foi completamente arrasada, tendo ficado dependente totalmente da cooperação internacional para a sua reconstrução.

Demografia

A sociedade timorense conviveu durante quase três décadas com a opressão e a violência. Simultaneamente, exibiu uma capacidade de resistência e uma vontade de ser parte ativa no seu destino verdadeiramente ímpares, característica que ofusca qualquer outra.
A heterogeneidade étnico-cultural é evidenciada pelos seus dialetos, variadas línguas, materiais produzidos ou diferentes estilos arquitetônicos.
Apesar de majoritariamente católicos, os timorenses não se podem considerar inteiramente convertidos, a avaliar pela rica tradição oral composta por lendas e mitologias que remontam a tempos pré-coloniais.
Crê-se que cerca de um terço da população existente em 1975 foi, até a entrada das tropas das Nações Unidas, dizimada por ação indonésia.

Cultura

A cultura de Timor-Leste reflete inúmeras influências, incluindo de Portugal, da tradição Católica Romana, e da Malásia, sobre as culturas indígenas austronésicas melanésias e de Timor. Lendas dizem que um gigantesco crocodilo foi transformado na ilha de Timor, ou Ilha do Crocodilo, como é frequentemente chamado. A cultura timorense é fortemente influenciada pelas lendas austronésicas, embora a influência católica também seja forte.
O analfabetismo ainda é generalizado, mas há uma forte tradição de poesia. No que diz respeito à arquitetura, alguns edifícios de estilo português podem ser encontrados, junto com os tradicionais totens em casas da região oriental. Estas são conhecidas como uma lulik (casas sagradas em tétum), e lee teinu (casas com pernas) na região de Fataluku. O artesanato também é generalizado, como é a tecelagem de tradicionais lenços ditos tais.

Línguas

De acordo com a Constituição de Timor-Leste, o tétum e o português têm o estatuto de línguas oficiais. De acordo com parágrafo 3 do artigo 3 da Lei 1/2002, em caso de dúvida na interpretação das leis prevalece o português.
Para além do tétum, existem mais quinze línguas nacionais em Timor-Leste: ataurense, baiqueno, becais, búnaque, cauaimina, fataluco, galóli, habo, idalaca, lovaia, macalero, macassai, mambai, quémaque e tocodede
O inglês e o indonésio têm o estatuto de línguas de trabalho nas provisões transicionais da Constituição.
Mercê de fluxos migratórios de população chinesa, o mandarim, o cantonês e, principalmente, o hakka são também falados por pequenas comunidades.

Fonte: Wikipedia


domingo, 10 de janeiro de 2010

4 anos depois...

A carta abaixo foi enviada por mim à lista de e-mails do grupo professorestimor-2005 no Yahoo no dia em que completávamos 4 anos da partida do Brasil para Timor em 2005. As respostas emocionadas que recebi de muitos companheiros valeram pelas lágrimas que derramei enquanto escrevia esse texto.
O curioso foi que, até aquele momento, eu não cogitava voltar a Timor tão cedo - ao menos, não pela CAPES - e a publicação do Edital e consequentes seleção e etc, fez o final da minha carta tornar-se profético. 
E aí? Quem me acompanha nas compras em Taibessi?


 



De: Telma Castro [fessora@gmail.com]
Assunto: [professorestimor-2005] 4 anos depois
Para: professorestimor-2005@yahoogrupos.com.br
Data: Segunda-feira, 30 de Março de 2009, 16:53


Há exatos 4 anos, iniciei meu dia de uma forma bastante fora da rotina diária de acordar e ir às pressas para uma sala de aula a 4km de distância de casa. Acordei e, sem pressa, comecei a jornada para uma sala de aula a mais de 15.000km.

Levantei bem cedo. Meu pai estava hospitalizado e não queria ir para o aeroporto sem me despedir dele. Mal sabia que seria a última vez que o veria. Papai perdeu a luta contra um câncer de próstata que o consumia há 5 anos enquanto eu estava em Timor. Foi duro saber da morte de meu pai por um telefonema internacional, mas o carinho dos amigos em Timor tornou esse fardo menos pesado. Escrevo isso e me lembro da Lúcia cantando "Oh, father!", da Madonna, no karaokê (ou karaóke) e meus olhos ficam embaçados.

Do hospital para o aeroporto e logo encontrei Sandra e Diane que já estavam despachando as malas. Sem tempo para lágrimas, pois havia muita coisa com que me preocupar, deixei para trás 47 anos da minha própria história para iniciar uma nova etapa, uma nova história que cada um de vocês aqui neste grupo ajudou a escrever e, portanto, já a conhecem e isso facilita tudo e me poupa qualquer extensa narrativa.

A história que vocês não conhecem, mas que estou certa que vão reconhecer um pouco das próprias histórias, foi a do retorno ao Brasil. Acho que me preparei tanto para ir para Timor que não me lembrei de preparar-me para voltar de Timor. Acreditei estar deixando um pouco de mim naquela meia-ilha longínqua, mas foi a ilha que cravou uma estaca em mim. Uma estaca, um mastro com aquela bandeira colorida, uma catana, não sei... só sei que até hoje, pensar em Timor me faz sofrer. Plagiando o poeta de Itabira, "Timor-Leste é apenas uma fotografia na parede. Mas como dói!".

Depois dos primeiros dias estranhando ruas calçadas e iluminadas, ônibus enormes, chuveiro quente, etc., começou o processo de retornar à velha vidinha. Mas como voltar? Estou certa de que essa retomada foi mais fácil para uns que para outros, e infelizmente me enquadro num caso bem difícil.

Talvez por ter saído de uma cidade tão grande, ou mesmo – sejamos francos – por ter tido sempre uma vida com tão poucos problemas, o contato com a realidade de um país tão pobre e sofrido tenha me causado um impacto tão imenso. Eu simplesmente tremia só de pensar em entrar numa sala de aula aqui no Brasil. Como ensinar algo a alguém se eu mal começara a aprender com a vida? Um sentimento de serviço inacabado tomou conta de mim e pensei diversas vezes em surtar e retornar a Timor com a cara e a coragem. Depois que o último grupão de brasileiros voltou ao Brasil, parece que me senti ainda pior. Se eu quisesse voltar, não haveria referência...

Daí veio o convite para o trabalho nas eleições pela ONU. Cheguei até a enviar a documentação, mas na hora de confirmar a data do embarque dei para trás. Naquele momento me achei cheia de motivos para fazer o que fiz, e depois amargurei-me de remorso. Isso foi no início de 2007, um ano depois da volta ao Brasil e, acreditem se puderem ou quiserem, ainda passei mais um ano perdida, sem rumo, arrependida por coisas que fiz e – pior – que deixei de fazer.

Só em abril de 2008, quando assumi o pequeno negócio que meu pai deixou e do qual eu tirara meu sustento nos últimos 24 meses sem erguer uma palha, comecei a recolher os cacos e retomar uma vida produtiva. Eu passara 2 anos mandando currículo para toda e qualquer posição em Timor – à exceção da Capes, claro – sem sucesso. Mandei currículo também para posições em outros pontos da Ásia e para postos na África, principalmente nos países lusófonos.

Cheguei até a conseguir algumas entrevistas, mas algo sempre travava e não fui selecionada para coisa alguma. Minto! Fui selecionada para um trabalho muito interessante da UNESCO pelo Norte e Nordeste do Brasil. Fui selecionada e logo descartada, já que, apesar de ter abandonado minha matrícula na Faetec, continuava sendo funcionária pública e constava no edital que servidores públicos não seriam aceitos. Foi a gota d'água. Fui trabalhar na loja da família e quando menos esperava, recebi uma convocação da Faetec para explicar a razão do abandono de emprego. Contei minha história e decidiram que eu retornaria sem problemas à minha antiga escola e que teria direito de pagar parceladamente à previdência pelos 4 anos "ausente" e contar esse tempo para minha aposentadoria. Desde o final do ano passado me divido entre empresária de jóias e professora de Matemática, e vou indo bem, obrigada... mas Timor não me larga de jeito algum...

Com tantas mudanças acontecendo, sendo chacoalhada da pasmaceira em que me permiti viver por tanto tempo, resolvi cortar diversos laços com o passado, relacionados ou não a Timor e numa dessas minhas ações, resolvi não avisar no Yahoo que cancelara meu email antigo na mudança do Velox para o Virtua. A verdade é que todas as vezes que apareciam mensagens – cada vez mais raras – vindas do grupo, eu tinha um aperto tão grande no peito que acabava me fazendo mais mal do que bem e deixei ficar assim por uns tempos. Na virada do ano, dei uma renovada na casa e mudei de quarto e nessa mudança coloquei um painel de fotos na parede, similar ao que eu tinha no meu quartinho em Dili. Lá, eu tinha fotos de todos que eu deixara no Brasil; agora, tenho uma foto com Tarcísio, Rodrigo, Raimundo, Chico Falcão, Jaílson e Gilmar no aeroporto em Johanesburgo; outra com Tarcísio, Ana Lúcia, Cid e Lotte no restaurante ao lado do "dedinho", além de fotos diversas de Michelle, Rama, Fátima, Simone e Levi, etc. Até o "Sugar", nosso amigo do cyber-café, aparece nas fotos. Num porta-retratos especial, a foto do grupo no momento da chegada com as crianças timorenses carregando as bandeiras do Brasil e de Timor. Pendurados tenho apenas dois taís: o que recebemos na chegada e o que recebi da Faculdade de Engenharia na minha festa de despedida.

Olho as fotos e me apavoro porque há nelas pessoas cujos nomes não consigo lembrar e preciso recorrer àquela velha lista de e-mails, telefones e datas de aniversário, lembram? Leio os nomes e me vêm tantas lembranças. A maioria muito boas, muitas bastante engraçadas, todas doídas. Saudade é um sentimento tão tolo que nem pode ser traduzido em outras línguas. Seja do que for que se sinta saudade, é passado, não volta. Se eu voltar agora a Timor, não vou mais ficar sentada à luz da lua ouvindo as histórias do Cid sobre Astorga, não vou mais brigar com a Ana porque a Bolinha sujou a sala de lama, não vou mais recolher a roupa suja do Tharsa e do Rai para lavar no tanque elétrico que a Lotte carregou na boléia do caminhão toda orgulhosa. Se eu for ao Exótica, não vou mais ver a Cléo e a Sandra Sá dançando nem vou ouvi-las desafinar no microfone desregulado do karaokê. A Lúcia e a Jana não vão mais estar no fim de tarde do Padi Dive para tomar uma Bintang comigo. E se eu comprar outra lambreta não vou ter mais o Raimundo como motorista. Não vou mais me deliciar com a "Special Pasta" do Saulo nem assistir "Sex and the City" no vídeo com a Michelle. Será que a Rama ainda vai tentar me ensinar a dança do ventre? Quem será que está jogando bola naquele campinho do quartel? Quanto estará custando o prato feito no "dedinho"?

Pois é... Timor não é apenas uma fotografia na parede, ou uma cigarreira de palha colorida adquirida no Arte Moris que não troco nem por uma Louis Vuitton (legítima, não de Bali), nem mesmo a música Vuli Ndlela que é o toque do meu celular para quando o Rai me telefona. Timor entrou em minha corrente sanguínea, tornou-se um apêndice em meu organismo que não consigo nem quero extirpar. Dói muito a lembrança, mas é uma dor que eu, masoquista, insisto em sentir. Ontem mesmo, saí toda orgulhosa para o supermercado com minha sacola de plástico trançado em lilás e amarelo. Evito a embalagem descartável e carrego um pedacinho de Taibessi na Zona Sul de Rio de Janeiro. Aliás, meus vestidos de Taibesse estão um pouco apertados, pois estou quase sete quilos mais gorda do que estava há quatro anos. Acho que estou precisando voltar lá para fazer umas compras. Alguém me acompanha?

Com saudade e carinho,


Telma

sábado, 9 de janeiro de 2010

Desopilando o Fígado e Lavando a Alma


Ao longo dos meus 52 anos de vida, venho me esforçando para ser uma boa pessoa – ao menos na maior parte do tempo. À medida que o tempo foi passando, fui me conhecendo melhor e aprendendo a gostar mais de mim, não apenas pelo que sou, mas principalmente pela minha capacidade de me transformar.

O processo de maturidade acontece num diferente momento da vida de cada um e acredito que o meu tenha sido dos mais tardios. É mais ou menos como se um dia eu tivesse fechado para balanço e começasse a avaliar tudo que tinha feito até então. Algumas atitudes memoráveis, outras nem tanto. Qualidades que aprecio e desejo não apenas manter, como também aprimorar; defeitos que precisam ser corrigidos imediatamente, outros que podem esperar para serem burilados aos poucos, talvez por não serem tão graves ou talvez por serem mais difíceis de corrigir...

Resumindo, sou como qualquer pessoa. Um pouco boa e um pouco ruim, mas mantendo-me firme no propósito de tornar-me melhor a cada dia. Procuro não repetir os mesmos erros e esforço-me para não aumentar o repertório de erros já cometidos.

Hoje, resolvi falar um pouco sobre um dos meus piores defeitos e que, espero, um dia eu possa eliminar totalmente: sou vingativa! Originalmente, acredito que eu fosse daquelas que tramariam para derrubar o inimigo, com um toque de vilã de novela das oito, mas como sigo tentando melhorar em tudo, consegui ser apenas uma pessoa que vibra ao ver as voltas do mundo darem uma rasteira em quem eu acredito que mereça.

E por que estou escrevendo isso num blog sobre Timor-Leste, sendo que ainda estou no Brasil? Porque ontem recebi meu bilhete eletrônico e o aviso que meu passaporte de serviço já está a caminho, ou seja, agora não tem mais como voltar atrás: eu vou MES-MO!!!

Alguns amigos mais próximos acompanharam toda a minha trajetória nessa busca de uma oportunidade para retornar a Timor. É uma longa história e tenho um ano à frente para ir revelando-a aos poucos. Quando surgiu a chance de voltar pela CAPES, senti-me entre a cruz e a espada. Se, por um lado, havia o prévio conhecimento de todos os problemas que enfrentei em 2005, havia também aquela sensação terrível de dever mal cumprido, de trabalho inacabado, além das saudades que me apertavam a alma cada vez que lembrava de Timor. E lembrei de Timor durante todos os dias dos últimos 47 meses.

Inscrevi-me para participar do Programa - nessa que deve ser a última missão da CAPES em Timor-Leste - sem muita certeza de estar fazendo a coisa certa, mas a partir do momento em que fui selecionada para a entrevista em Brasília, entendi que era o momento de colocar um ponto final nessa tormenta e me agarrei à oportunidade com unhas e dentes.

Durante a primeira missão em 2005/2006, fui uma das maiores pedras no sapato apertado da CAPES em Timor. Reivindiquei direitos, meus e do grupo, apontei irregularidades e coloquei meu dedinho em todas as feridas do Programa. Quando vi que me convocavam novamente, acreditei num mundo melhor onde aqueles que lutam por justiça são recompensados e onde até instituições governamentais são capazes de fazer um mea culpa e admitir os próprios erros. Fui para a entrevista em Brasília com a alma lavada... até descobrir a lama que se escondia atrás das mesas de fórmica nas instalações novinhas em folha da agora Fundação CAPES.

Eles só me convocaram porque nem leram o memorial que escrevi e na verdade levaram um susto ao saber que eu tinha tomado parte da missão anteriormente. Provavelmente me escolheram pelo currículo apenas, talvez numa busca superficial pela Plataforma Lattes. Quando deram fé da “mancada”, tentaram de todas as formas me deixar de fora, mas quando chega o Kairos (não é, Vavá?) não tem retorno, e aqui vou eu. Saio do Rio na segunda-feira, 18 de janeiro, às 9:00h da manhã, com destino a Santiago do Chile. Vou passar nove horas em trânsito na cidade e pretendo fazer um citytour já que não conheço o lugar. De lá, dezoito horas de vôo até Sydney e depois de três horas em trânsito, embarco para Darwin, no noroeste da Austrália, onde vou pernoitar e só na manhã seguinte embarcar para Dili. Chegarei a Timor na quinta-feira, 21 de janeiro de 2010, às 7:30h, horário local (serão 20:30h do dia 20 de janeiro aqui no Rio). São quase sessenta horas de viagem e na metade do tempo estarei em trânsito, daí espero que não seja muito cansativa. Vai ser chato viajar sozinha, mas compensa ser a última a me juntar ao grupo, pois pude passar Natal e Réveillon com minha família, além de ter tido mais tempo para colocar minha vida em ordem.

Por tudo isso, quero dedicar o vídeo abaixo à CAPES, e firmar aqui o compromisso de desenvolver um trabalho da melhor qualidade em Timor-Leste, como acredito que já tenha feito antes, assim como continuar firme na luta pelos direitos dos “bolsistas”.







sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Quantas vezes…



Quantas vezes nós pensamos em desistir, deixar de lado, o ideal e os sonhos;
Quantas vezes batemos em retirada, com o coração amargurado pela injustiça;
Quantas vezes sentimos o peso da responsabilidade, sem ter com quem dividir.
Quantas vezes sentimos solidão, mesmo cercado de pessoas.
Quantas vezes falamos, sem sermos notados.
Quantas vezes lutamos por uma causa perdida.
Quantas vezes voltamos para casa com a sensação de derrota.
Quanta vezes aquela lágrima, teima em cair, justamente na hora em que precisamos parecer fortes;
Quantas vezes pedimos a Deus um pouco de força, um pouco de luz;
E a resposta vem, seja lá como for, um sorriso, um olhar cúmplice, um cartãozinho, um bilhete, um gesto de amor;
E a gente insiste;
Insiste em prosseguir, em acreditar, em transformar, em dividir, em estar, em ser;
E Deus insiste em nos abençoar, em nos mostrar o caminho:
Aquele mais difícil, mais complicado, mais bonito.
E a gente insiste em seguir, por que tem uma missão…

 

SER FELIZ !                                                                                  (Desconheço o autor)



Para minha amiga, Marina Pereira Reis, que segue sua missão em Timor-Leste com a garra de uma guerreira implacável, mas sem perder a doçura de uma eterna apaixonada.

Coloque a Bintang pra gelar, mana, que a gente vai saboreá-la ao pôr-do-sol no Caz Bar :-))