Olá!

Bem vindos ao diário de uma brasileira em Timor-Leste - uma meia-ilha no outro lado do planeta que a todos encanta com a magia do canto de uma sereia.
Ou seria o canto de um crocodilo? Bem... em se tratando de Timor, lafaek sira bele hananu... :-))

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

23 de fevereiro de 2010 – Ave Proformação!



Às vezes as pessoas me cobram uma “conversão” religiosa. Não é que eu seja uma pessoa sem fé, mas não consigo me ver seguindo cegamente dogmas, nem que tenham sido escritos pelas mãos do Todo Poderoso.

Hoje eu me assustei com a postura dos membros da equipe do extinto (?) Proformação do Brasil que estão aqui desde ontem para dar suporte a nós daqui do Profep. Pelas falas de alguns deles, parece que o programa é perfeito e que ao assumirmos a posição de professores-formadores temos que vestir a camisa, fazer juras de amor e fidelidade eternos... Puxa, se isso nunca deu certo comigo nem quando estava apaixonada!

Na verdade o grupo chegou no fim de semana, mas só nos encontramos ontem lá no INFPC. Vieram do Brasil: Wanda, gestora do Profep de 2005 a 2007; Vania, do MEC; Marilac, coordenadora do Profep na missão passada e mais três pessoas que trabalharam no Proformação no Nordeste e hoje, pelo que entendi, trabalham no Proinfância, o programa criado para substituir o Proformação. Senhorinha, que hoje caiu de cama com dengue, parecia estar um pouco desconfortável com a vinda do grupo, como se achasse que eles viriam fazer uma avaliação da atuação do Profep nesta que promete ser sua última etapa. Apesar da indisposição e febre, preparou uma recepção muito simpática com entrega de táis, pelos professores timorenses, aos visitantes brasileiros. Todos nos apresentamos e o grupo saiu para preparar uma “resposta” às nossas colocações, e foi só o que aconteceu no primeiro encontro.



Hoje o dia já não começou bem pra mim. O carro da embaixada se atrasou e quando liguei pra Senhorinha pra saber o que estava acontecendo, ela estava com uma voz péssima e disse ter piorado bastante durante a noite e que o carro estava parado na porta do hotel esperando pelo grupo visitante. Preferi tomar um taxi pra não me aborrecer. Hoje, nem levei o laptop porque teríamos uma reunião com o pessoal do Proformação pela manhã e, à tarde, eu viria pra casa pra preparar a prova bimestral. Quando cheguei ao INFPC, não havia energia elétrica e Wanda resolveu inverter a agenda, ou seja, eu ficaria a manhã toda sem poder fazer nada, e teria reunião à tarde. Confesso que essa mudança em nada contribuiu para melhorar meu mau humor...

Resolvi aproveitar a manhã perdida para conversar com o professor de Matemática do grupo – um cearense chamado Paiva – e falar sobre o conteúdo que aborda de desvio-padrão à análise combinatória, passando pela resolução de sistemas lineares de três equações e três incógnitas por escalonamento. Ele até começou a falar com aquele jeito de quem foi abduzido por uma entidade superior dizendo, nas entrelinhas, que o programa era seu pastor e que nada faltava ali para que fosse uma perfeição. Como minha causídica predileta diz que já nasci advogada (rss), apresentei uma argumentação bem realística provando por A+B (como boa matemática que, na realidade, sou) que aqueles tópicos só serviam para ocupar espaço, de papel e de tempo, que poderia ter sido usado com mais propriedade dentro da realidade do país. E não me refiro só ao Timor, mas quantos professores-tutores, pelo nosso Brasil a dentro, serão capazes de resolver sistemas intrincados por escalonamento? No final, o Paiva abriu o jogo. Aquilo ali só está nos guias de estudo para constar e dar fundamentação à certificação dos professores-cursistas que é equivalente a do curso Normal. O segredo é usar o bom senso e simplesmente “pular” as páginas que não serão compreendidas pelos timorenses nem no dia em que Mari Alkatiri cumprimentar Ramos Horta com dois beijinhos.

Quando retornamos do almoço, a energia ainda não havia sido restabelecida e chovia cântaros. Fomos para o auditório (?) onde Wanda faria um histórico do Profep de 2005 até hoje, além de uma apresentação formal da proposta do Proformação. Foi então que meu queixo caiu.

Quando ela fala sobre o Programa, parece uma coruja falando de um pimpolho todo errado, mas que a mãe só é capaz de ver as qualidades e achar bonitinho. O material, segundo ela, foi produzido por profissionais extremamente gabaritados e revisto por especialistas em linguística para adaptá-lo à forma de EAD (Educação à Distância). O conteúdo gira em torno de eixos temáticos e é contextualizado dentro da realidade do público alvo. Cada tópico tem sua especial razão de ser e de estar colocado exatamente no lugar certo, e apesar de dizer que o programa não está “engessado”, é impossível alterar uma linha que seja. Nem quando falou da emoção de ver formada a primeira turma do Profep em fevereiro de 2008, ou de relembrar das dificuldades enfrentadas durante o período dos conflitos em 2006, Wanda parecia tão “tomada” como quando falou da estrutura pedagógica dos guias de estudo. Em alguns momentos, a empolgação dela defendendo o Programa me lembrou um pastor evangélico indonésio chamado Tati que passou um tempo na casa da Simone em 2005. Eu não entendia uma palavra do sermão dele em bahasa indonésia, mas o cara era tão envolvente que quase me levou às lágrimas. Eu confesso que não compreendo essa adoração cega ao Proformação – apesar dos bons resultados apresentados, o Programa foi extinto no Brasil... – mas entendi o recado e vou seguir usando meu bom senso e jamais perderei tempo tentando mudar uma vírgula nos guias.

Voltando ao clima de culto religioso, de repente meu amigo Antonio pareceu ter recebido a mesma entidade. Eu levei um susto quando ele pediu a palavra (estava sentado atrás de mim e, literalmente, me acordou) e disse que acreditava estar falando em nome de todos os professores-formadores. Falou da admiração que sentia pelo grupo pioneiro que dera seu sangue (?) pela implantação e continuidade do Programa, e foi por aí a fora, concluindo : “Estou me sentindo verde como a toalha dessa mesa e como as montanhas de Timor na época das chuvas!”. Antonio por pouco não tirou o título de “Rei dos Elogios” daquele maluco do Youtube (Carro-Velho é o nome dele) que fica inventando palavras na rádio em Quixeramobim.

Diante do exposto, pedi licença e saí mais cedo pra poder, finalmente, preparar minha prova e me afastar do risco de ser contagiada pelo espírito de “Ave, Proformação!” que se instaurou por aqui. Meu consolo é que, apesar de amanhã termos o dia inteiro de encontro com os tutores, na quinta-feira, logo pela manhã, viajo para Atauro com a Rosiete. Prefiro andar 20 km com o sol me cozinhando a moleira pra acompanhar a prática pedagógica nas escolas da ilha, que ficar aqui e me tornar mais uma Proformação-de-carteirinha. Dá uma zebra e eu também incorporo esse encosto... Epa-hei Iansã!


domingo, 21 de fevereiro de 2010

21 de fevereiro de 2010 – Um mês em Timor



Hoje completo um mês nessa minha segunda missão em Timor-Leste e é hora de fazer um balanço.

Timor-Leste hoje não tem mais conflitos e é uma jovem nação em paz e crescendo a plenos pulmões. Mas Timor não tem mais Raimundo...

Em relação a 2005, praticamente não há mais problemas com energia e abastecimento de água em Dili. Há calçadas e até alguma iluminação nas ruas, além de sinais de trânsito. Mas Timor não tem mais Lúcia Inês...

Há esgotos tratados e até os porcos estão mais gordos. Não há fome em Dili, apesar de toda a pobreza. O país está vencendo as dificuldades a passos curtos, mas bem direcionados. Mas Timor não tem mais Tarcísio...

Ninguém grita mais “Malae! Malae!” pelas ruas, e as crianças já nos cumprimentam em Português, apesar de vez ou outra ainda se ouvir um “Hello, Mister” aqui e acolá. O buzinaço dos taxis está mais ameno e os meninos do ANZ estão nas escolas ao invés de ficar vendendo “kartaum” aos estrangeiros. Agora, chamam o kartaum de “pulsa”. Mas Timor não tem mais Michelle...


A Catedral foi reformada e o buraco em frente foi finalmente fechado. O trânsito por ali ao meio-dia lembra até a Rua São Clemente (Botafogo – Rio de Janeiro) na hora da saída das escolas. A antiga casa dos “meninos” em Vila Verde agora é sede de alguma organização internacional. Mas Timor não tem mais Saulo e Guido...

Taibessi acabou! As barracas foram transferidas para outro espaço e agora chama-se mercado de Hari-Laran (erguido dentro – tradução literal). Ainda há muitas roupas, mas a maioria é nova. Aqueles navios de roupas doadas por ONGs já não se fazem tão necessários e os timorenses tentam deixar de ser um povo vestido de segunda mão. Mas Timor não tem mais Sandra Beiju...

Agora há uma ciclovia até Areia Branca. Bem, na verdade está inacabada, mas as obras continuam e espero que até o fim da missão eu possa pedalar daqui ao Cazbar. Mas Timor não tem mais Cléo...

Antigos restaurantes deram lugar a novos investidores e o circuito de “points” definitivamente mudou. Na quarta-feira ainda se vai ao Exótica que não atende mais por esse nome apesar de continuar pertencendo ao Carlos. Ainda não estive por lá, mas foi o que ouvi dizer. Mas Timor não tem mais Sandra Sá...

Timor tem hoje um novo grupo de professores da Capes. Serão os últimos por aqui. Caso o acordo de cooperação educacional seja renovado, acredito que o próprio governo timorense irá querer estabelecer novas bases, orientado pela cooperação portuguesa, sem dúvida alguma. E nada mais justo... pode até ser que o meu estranho banzo esteja falando por mim, mas hoje, minha análise é que a Capes não aprendeu nada com os próprios erros. O Brasil continua cumprindo esse acordo como quem carrega um pesado fardo do qual está louco para se ver livre.

O Profep já nasceu funcionando bem, ponto final. Não posso falar sobre o ELPI (Ensino da Língua Portuguesa Instrumental) já que não tenho o menor contato com ninguém de lá. O PG-UNTL não existe; é só a Rosimeire como “tutora” sem ter quem tutorar. Alguns voluntários estão lecionando no Liceu, mas até onde eu saiba, isso é tudo. Há a promessa da vinda de um grupo da Universidade de Santa Catarina que irá implantar cursos de mestrado, mas até lá não imagino como possa funcionar um programa cujo Edital descreve como “Pós-Graduação na Universidade Nacional Timor Lorosa’e (PG-UNTL): O projeto tem como objetivo capacitar profissionais na área da educação para o ensino, pesquisa e a extensão nas diversas áreas do conhecimento; formar profissionais aptos a utilizarem o conhecimento adquirido nas áreas específicas para atuarem em instituições públicas ou privadas.” E não envia um só profissional para atuar no mesmo. Lembrando que a tutora – a doutora em Rafiofármacia (sic) (*) que faz as vezes de educadora – está aqui recebendo € 2.100 por mês (cerca de R$ 5.125,00) para cumprir horário no MEC e administrar os horários das aulas dadas por professores que, apesar da boa vontade, não têm titulação para lecionar numa pós-graduação, dói no meu bolso de contribuinte prestes a levar uma super mordida do leão no próximo mês.

O Procapes de 2010 é uma versão piorada do similar sem nome de 2005. Naquele primeiro grupo, podia não haver coordenação, mas havia, ao menos, a vontade de acertar e a boa disposição para arregaçar as mangas e trabalhar duro, salvo desonrosas exceções. E agora? O que há? Melhor eu encerrar por aqui antes que eu me deprima mais ainda. Estou bem de saúde, minha família está bem apoiada no Brasil, estou aqui desenvolvendo um trabalho muito legal e recebendo o carinho de velhos e novos amigos. Do que posso me queixar? Vou me empenhar para fazer meu trabalho aqui melhor que o impossível (o possível, não é mais que obrigação) e depois voltar à minha vidinha bem estabelecida. Tenho uma família maravilhosa, um bom emprego, meu próprio negócio, casa, carro, amigos... o que posso pedir mais? Meu desejo de retornar a Timor-Leste tornou-se realidade e Ele continua escrevendo claro e reto por sobre as linhas mais do que tortas. Só tenho mesmo é que agradecer e esquecer que aqui não tem mais Raimundo, Lúcia, Tarcísio, Michelle, etc, etc...




(*) É assim que está escrito no currículo de Rosimeire de Souza Freitas na Plataforma Lattes.

16 a 20 de fevereiro de 2010 – Em ritmo de Quaresma

Terça-feira gorda e Quarta-feira de Cinzas de muita chuva e muito tempo passado em casa. A grande novidade da semana foi o fato de termos comprado a peça que estava queimada na antena parabólica e agora temos diversos canais de TV. Além da Record Internacional, ganhamos um canal brasileiro onde transmitem missas 24/7, um canal onde fazem preces em Inglês e outro onde as rezas são em Espanhol. Considerando que o dono da Record é evangélico, depois de um ano com essa lavagem cerebral vou acabar saindo daqui direto para um monastério. Ah! Falei apenas dos canais onde consigo entender o que dizem, mas há mais uns vinte canais Árabes onde, claro, também fazem preces e mais preces. Resultado: acabo voltando pra RTP Internacional onde há o telejornal local em Tétum e Português (TV-TL).

Finalmente, depois de idas e vindas à Timor Telecom e visitas de diversos técnicos (?), descobrimos que nossa Internet não funciona porque a intensidade da corrente é baixa. Como o último técnico – que, finalmente, falava Português – disse que nem adianta comprar um estabilizador, Malaezinho acha que vai solucionar o problema se puxar uma tomada diretamente do ar condicionado (que vem de um “gato” sabe lá Deus de onde). Tomara que ele esteja certo pois, do contrário, teremos investido cerca de 300 dólares para nada.

No mais, a pasmaceira foi tanta que fiquei até feliz de retornar ao trabalho na quinta-feira. O INFPC estava às moscas, já que o pessoal do Procapes, que, normalmente, já não tem mesmo muito o que fazer, está dispensado até segunda-feira. Parece que até o coordenador viajou como se estivesse no Brasil onde a maior parte das instituições de ensino fecha durante toda a semana de Carnaval. O problema é que aqui não há esse feriado e achei que pegou muito mal pra cooperação brasileira ter essa folga prolongada tão poucos meses após a chegada. O Edital da Capes é bem claro em relação a férias, mas o grupo que acaba de retornar do recesso de fim de ano teve mais esses nove ou dez dias pra passear pela Ásia. Acho isso constrangedor, mas é assim que a coisa funciona e nem adianta reclamar. Mesmo no Profep o serviço foi na base do devagar-quase-parando e os únicos que foram trabalhar nos dois dias pós-Carnaval, além da coordenadora, fomos eu e Alan. Teve quem fosse num dia e não no outro, teve quem nem deu as caras... talvez sejam acordos pessoais com Senhorinha, não sei, mas só sei que ela preparou uma notificação para todos assinarem ao tomar ciência que durante a próxima semana – enquanto o grupo que vem do Brasil para avaliar o trabalho do Profep estiver por aqui – vamos trabalhar em horário integral.

No Sábado eu tive minha primeira crise de banzo. Foi um banzo curioso porque não se trata de saudades de casa, mas de saudades de Timor... depois falo mais sobre isso, okay? Só pra ilustrar um pouquinho o dia-a-dia daqui, uma foto onde eu e Betão estamos nas pontas e¸ no meio, estão Karin, Eduardo, Gisele e filho. A festa, claro, na casa da onipresente e sempre atuante Simone que resolveu comemorar mais um aniversário. Dessa vez, uma das meninas da Casa Vida. O que seria dessas moças sem esse anjo da guarda? Que bom que ela existe e está aqui em Timor.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

15 de fevereiro de 2010 – Carnaval em Timor


Minhas sonhadas viagens à Ilha de Jaco e ao Monte Ramelau continuam adiadas, mas ao menos já visitei Ataúro e fiquei bem satisfeita. Nem foi tanto pela falta de dinheiro, já que a Capes me pagou há alguns dias, mas pela falta de companhia. Betão teve que dar aulas na UNTL durante o Carnaval e os planos de viajar por Timor foram por água abaixo.


Pra não deixar o Carnaval passar em branco, já que a chuva me impediu de comparecer ao baile oficial de ontem, fui à tardinha assistir ao desfile de blocos carnavalescos (?) no estádio, aquele mesmo onde jogava o querido time do CPM (Coisa Para Macho) em 2005. Na verdade, o desfile propriamente dito, aconteceu mais cedo, nas ruas de Dili. No estádio, houve a apresentação de bandas e grupos folclóricos, além da premiação aos blocos.

Roberto me deu uma carona até a entrada do estádio onde sabia que eu encontraria algum brasileiro. Surpreendentemente, praticamente só encontrei os quatro professores que participaram da organização do evento e, pra não dizer que eram os únicos brazucas presentes, encontrei ainda com Marcelo (Café Brasil) e Cleto. Até mesmo na “famosa” Banda Brasil, que nos brindou com apenas três ou quatro músicas, a maioria dos componentes era composta por não-brasileiros. Bem, tratava-se do Carnaval Timorense e não do Carnaval Brasileiro. Em Timor-Leste, assim como nasce aos poucos uma nova Língua Portuguesa, está sendo criado um novo conceito de Carnaval. Aqui o Carnaval está se tornando uma celebração cívica, um ato político de exaltação à liberdade. É... pelo visto, não só temos o que ensinar, mas muito o que aprender por aqui...

Ao chegar ao estádio, meio perdida e sem ver qualquer conhecido, comecei a subir as arquibancadas procurando um bom lugar para bater fotos quando vi a ex-primeira dama de Timor, Kirsty Gusmão, e dois dos filhinhos de Xanana. Nem pensei duas vezes: fui até onde ela estava e sentei-me duas cadeiras à esquerda, esperando que Xanana aparecesse e se sentasse no meio. Qual o quê! Ela foi lá para representá-lo e até recebeu a chave da cidade das mãos do Rei Momo. Bem, o rei era um Liurai, e a chave da cidade, uma catana, mas trata-se de Timor e aqui é certamente o outro lado do mundo :-))


























13 de fevereiro de 2010 – Finalmente Ataúro!



 Passei um ano em Dili olhando para a Ilha de Ataúro e desejando conhecê-la. Todas as vezes que marcava uma ida à Ataúro acontecia alguma coisa e a viagem nunca acontecia. Agora, menos de um mês após minha chegada, finalmente consegui ir a Ataúro.



Valeu à pena esperar. Ataúro é tudo aquilo que ouvia dizer e mais um pouquinho. Um dos lugares mais lindos que já conheci. Erivelto (Malaezinho) está envolvido em um projeto de sustentabilidade e meio ambiente e foi fazer uma apresentação do mesmo para os pescadores da ilha. Formamos um grupinho e fomos juntos para dar uma força ao amigo.


A viagem no navio Nakroma foi boa, apesar do calor sufocante. Parte da viagem foi feita na área VIP com ar refrigerado perfeito e banheiro limpo, mas logo descobriram que um grupo de malaes estava ali tendo pago apenas pela primeira (?) classe e nos colocaram para fora com a habitual sem-cerimônia dos timorenses. Do lado de fora a vista é deslumbrante, mas o sol forte estava próximo do insuportável e nem dava pra sentar no chão que queimava até bons pensamentos. Na próxima viagem vou levar chapéu e cadeira!

Depois de um curto passeio de anguna, almoçamos num restaurante da vila de pescadores – oferecimento do tão falado Padre Chico, um italiano que está em Ataúro há 6 anos, depois de passar 40 anos no Brasil – e aproveitei para comprar uma das também famosas Bonecas de Ataúro. Senhorinha tinha me presenteado com um boneco (um guerreiro maubere) e eu queria levar uma companheira pra ele (rss).

A recepção dos pescadores foi até melhor que esperávamos já que, diferente dos alunos/professores de Dili que dificilmente questionam o que lhes dizemos durante as aulas, o grupo contestou uma porção de coisas no projeto e colocou-se de uma forma lúcida e realística que só comprova a máxima de minha mãe que sempre diz que a parte mais sensível do corpo humano é o bolso. Ao verem uma possibilidade de ganhos melhores os pescadores de Ataúro organizaram-se e tiraram os pés das águas fincando-os no chão com muita propriedade. Todas as colocações do grupo só virão a engrandecer o projeto do Malaezinho e no que eu puder, vou ajudar na implantação do Museu do Homem de Ataúro (apesar de achar o nome machista).

A parte ruim da viagem foi ser tão curta que não deu tempo de mergulhar naquelas águas translúcidas ou mesmo fazer um passeio ao redor da ilha. Como encontrei o professor-tutor do Profep em Ataúro na palestra e ele aproveitou para, além de elogiar muito o projeto do Professor Erivelto, também tirar umas dúvidas quanto à resolução das questões de Matemática, prometi que virei à ilha no próximo encontro quinzenal que acontecerá no fim deste mês. Como o professor formador que dá atendimento à ilha tem que ficar alguns dias por lá, espero poder dar ao menos um mergulhinho na próxima viagem.

08 a 12 de fevereiro de 2010 – Semaninha meia bomba




Quando eu estava indo para Maubara no Sábado passado, recebi um SMS da Lotte convidando para a festa de aniversário que a chuva acabou arruinando. Ao voltar pra casa, fui checar a lista de e-mails, telefones e aniversários de todos do grupo de 2005 e descobri que o aniversário da Lotte tinha sido exatamente no dia 03, o dia em que jantamos juntas no Vasco da Gama  e a danada não disse nada. Quando falei sobre isso com Simone, ela logo decidiu fazer uma festa “atrasada” e preparou um super jantar na casa nova pra não deixar a data passar em branco. Além da família Assis e da aniversariante, fomos eu, meus “meninos” (Betão e Malaezinho) e Diane. Foi bem legal e a comida (camarões, camarões e mais camarões) estava excelente.

Fora essa confraternização, a semana foi em ritmo de pré-Carnaval quando parece que todos estão empurrando a vida com a barriga esperando apenas a chegada do feriado. Alguns professores do Procapes viajaram antes mesmo do final da semana e o INFPC ficou quase deserto, a não ser pelo grupo do Profep que continuou trabalhando até sexta, com o compromisso de retornar na quinta-feira, 18 de fevereiro. Há um grupo de professores envolvidos com a festa de Carnaval que será promovida pelo governo de Timor, com apoio da embaixada do Brasil em Dili, mas não estou sentindo muita animação nos colegas que não vão viajar ou não estão caídos com dengue ou malária.

Esse grupo de 2010, apesar de bem menor eu o grupo de 2005, é bastante desunido e parece mesmo ser cada um por si e Deus por todos. Nós, no Profep, somos bons colegas de trabalho, mas apesar da harmonia entre os profissionais, parece não haver muito mais do que isso. Rosiete e Alan moram juntos e parecem ser amigos, mas nada que lembre, nem de longe, amizades como a minha com Raí, Saulo com Guido, Sandra com Karina, etc, só para citar algumas das duplas inseparáveis de 2005. Senhorinha parece se dar muito bem com Antonio, e talvez formem a única “dupla dinâmica” do programa. A gente vê o carinho que um sente pelo outro e isso me dá ainda mais saudade de Raí e Tarsa, mas não posso me queixar: Roberto e Erivelto têm sido uns amores comigo e agradeço a Deus por estar junto deles nessa minha segunda – e tão diferente – temporada em terras mauberes.

O grupo do ELPI talvez seja coeso, mas não posso dizer absolutamente nada sobre eles. Trabalham na embaixada e só encontro com alguns professores do ELPI, muito eventualmente, nos restaurantes ou mercados. O Procapes é um mistério e mais uma dívida que tenho com alguém lá de cima que gosta muito de mim: Obrigada, Senhor, por eu não ter sido chamada para o Procapes! As desavenças são tão graves que já fizeram um professor de Física voltar ao Brasil depois de dois meses aqui e agora vão perder também um professor de Português que está doente... doente de decepção com o trabalho. Nem sei onde é a sala do coordenador – parece que é a antiga sala do grupo do MEC – e nunca o vejo no INFPC, mas sei que há colegas que só dão aula uma vez por semana. Durante o tempo restante, alguns ofereceram-se para trabalhar na UNTL já que o “grupo” da UNTL tem apenas a coordenadora sem nem um coordenado para contar a história (parece piada de português, mas a “equipa” de Portugal é muito melhor estruturada). 

Alega-se que todos esses professores sem carga de trabalho efetivo estariam preparando material didático... Aí vem a pergunta que não quer calar: para ficar em casa preparando material didático essas pessoas precisariam ter sido mandadas para cá ao custo mensal de, aproximadamente, $ 2,300.00 USD mensais mais passagens?  Por um salário de mais de R$ 4.200,00 por mês daria para contratar uma bela equipe de profissionais gabaritados e aptos a produzir um material de ótima qualidade que poderia ser enviado a Timor por e-mail economizando mais de um milhão de Reais em passagens. Sinceramente, tem horas que a “contribuinte” dentro de mim fala mais alto e me revolta ver o desperdício do erário nesse programa. O pior é que o governo timorense, avaliando a cooperação como um todo, ameaça não dar continuidade ao Profep que, afinal, é um programa que dá certo por aqui há cinco anos. É a velha história da maçã podre que contamina o cesto. Uma pena...

Só pra não fechar esse post com amargura, tive um encontro emocionante esta semana. Fui com Roberto até o Delta II só pra mostrar a minha antiga casa em 2005 e – Surpresa! – encontrei com Lura, nossa antiga empregada, aquela que além de não cozinhar, nem lavar, nem passar, ainda oferecia “segurança” à casa, apesar seu 1,40m de altura e 32 kg. Lura me reconheceu ainda com o capacete e veio correndo me abraçar. Sua filha, Beatriz, aquela que a ajudava a não varrer nem tirar a poeira, carregava orgulhosa um filhinho de poucos meses amarrado num daqueles panos estampados tão característicos daqui. E por falar em panos típicos de Timor, comprei um táis tecido por Lura, igual a um que ela havia feito pro Tarcísio há quatro anos. Foi o primeiro e último táis que comprei – táis devem ser ganhos e não comprados – mas foi por uma causa nobre. Só mesmo pra ajudar uma velha amiga eu pagaria dez dólares por um pedacinho de pano, mas deixei um sorriso e vou levar essa lembrança com muito carinho.

07 de fevereiro de 2010 – A Canção das Crianças

Quem me conhece um pouquinho sabe que não sou uma pessoa das mais religiosas. Sou Católica, não por opção, mas isso é o tipo de coisa que entra na corrente sanguínea e, mesmo que racionalmente eu conteste muitos dos dogmas da Igreja, fui batizada, fiz primeira comunhão, e é à fé Católica que me apego nas horas mais difíceis. Por filosofia, sou Zen Budista, mas no fundo, no fundo, sou “Telmista” e tenho minha forma bem pessoal de lidar com a fé.

Somente aqui, nessa margem oposta do planeta, fui compelida a freqüentar os cultos evangélicos promovidos por Simone e Levi. Talvez por inveja – no bom sentido – da paz que eles transparecem, talvez por uma admiração mais que profunda pelo trabalho humanitário que desenvolvem, talvez achando que, quando crescer, eu possa ser um pouquinho (um milésimo já me deixaria feliz) generosa como Simone... só sei que fico feliz de ir ao “Café da manhã” da Igreja que, na realidade, nada mais é que a casa onde Simone abriga as jovens vítimas de abuso sexual e seus filhos, frutos de estupros, tratando a todos com uma dignidade que só pode ser mesmo coisa do carinha lá de cima que gosta tanto de mim que colocou essa família em meu caminho.

Ver as crianças na Escola Dominical ouvindo as histórias que Simone conta em Tétum, colorindo figuras, recortando papéis... me faz tanto bem... Um mínimo que eu ajude já me deixa um pouco mais próxima desse modelo de mulher admirável e me faz acreditar que também possa ser um ser humano melhor... uitoan...

Hoje eu só queria mostrar o vídeozinho com as crianças cantando. Uma graça! Em todos os sentidos :-))






06 de fevereiro de 2010 – Viagem a Maubara



Como era previsível, eu não consegui escrever realmente um diário... também, passados os primeiros e efervescestes dias de readaptação, a vida cai numa rotina que não tem sentido ser relatada.

Hoje fui fazer a minha primeira visita quinzenal à uma escola nos distritos. Para o restante do grupo tratava-se da terceira, ou seja, só perdi mesmo um mês de trabalho efetivo o que não é de todo mau.

Inicialmente eu estava designada para ir a Maumeta (Maun = irmão + metan = preto) no Distrito de Liquiçá, porém o tutor de Maubara fez uma solicitação especial para receber um professor de Matemática e lá fui eu atender ao pedido. Maumeta fica relativamente próxima de Dili e há três tutores para serem atendidos lá, o que significa que três professores formadores têm que ir à localidade; Maubara fica no extremo do Distrito e como só tem um tutor, acabei fazendo a viagem sozinha com o motorista do INFPC que, obviamente, não falava Português.


Apesar da distância e da estrada abaixo de sofrível, a viagem foi boa e valeu a pena o sacrifício. Fui recebida com honras de chefe de estado pelo tutor Rui Ramiro e pelos nove professores cursistas. Já cheguei na hora do lanche matinal e depois ainda me serviram almoço e outro lanche à tarde. Senhorinha tinha me entregue uma sacola que chamou de “kit de sobrevivência” contendo água, suco, amendoins e biscoitos, mas não tive coragem de comer nada desse lanche quando aqueles professores tão humildes prepararam tantas coisas só para me agradar. Na escola não havia uma só torneira e a garrafa d’água acabou servindo para lavar minhas mãos antes das refeições, mas fora isso, comi os quitutes tipicamente timorenses que me foram oferecidos.

Maubara é um lugar lindo com uma praia de águas incrivelmente azuis. Depois do almoço minhas colegas timorenses foram comigo até a beira da praia onde há uma feira de artesanato. Comprei alguns artigos de palha trançada e almofadas – são famosas as almofadas decoradas com táis de Maubara – e só não fiz mais compras porque fiquei inibida de gastar tanto com coisas que não são de primeira necessidade estando acompanhada de professores que ganham cerca de cem dólares por mês. Em dez minutos eu gastei mais do que eles ganham em uma semana comprando cestinhos de palha e travesseiros. Situação, no mínimo, desconfortável.

O tutor Ramiro é muito competente – a seu modo. Preparou um álbum-seriado (há anos eu não via mais isso) com figuras e textos para ilustrar a aula. Apesar de sua aula expositiva não solicitar quase a participação dos cursistas, senti que ele se esforçara para fazer o seu melhor. Quando me passou a vez, havia até um sólido geométrico feito com pedaços de cartolina colorida, além de um círculo feito de caixa de papel cartão, com um decágono inscrito. Dei minha aula com tanto prazer que só pode ter sido boa... Sem falsa modéstia: ensinar Matemática é talvez uma das poucas coisas que sei fazer realmente bem, e quando me sinto estimulada, é natural que tudo flua melhor. Os cursistas amaram meu compasso de barbante e, para os padrões timorenses, participaram ativamente da resolução das questões.

Voltei para casa com a alma e o corpo lavados, já que, além da visita prazerosa à escola em Maubara, chovia bicas quando chegamos a Dili, e só da caminhada da entrada da casa até meu quarto, fiquei molhada até os ossos. Infelizmente a chuva acabou atrapalhando meus planos de ir à festa de aniversário da Lotte em Areia Branca (no restaurante da Fina). Como Sábado é dia de malae celebrar a vida em Timor-Leste, ainda tinha o sambão no Café Brasil (restaurante do Marcelo) e acabei indo lá só pra marcar presença. Depois de um dia cheio, e que começou às seis da manhã, não dava mesmo pra ficar sambando até tarde, não é mesmo?

03 de fevereiro de 2010 – Jantar com Lotte

Hoje tive o primeiro encontro com os professores-tutores no Profep. Acho que já expliquei mais ou menos como funciona o Profep-Timor, mas lá vai de novo.


 Somos seis professores brasileiros com os respectivos contra-partes timorenses, além da coordenadora do Programa, Senhorinha Pit Paz:

•    Linguagens e Códigos – Rosilene (RS-BR) e Calisto (TL)
•    Matemática e Lógica – Eu (RJ-BR) e Ester (TL)
•    Vida e Natureza – Antônio Mendes (PE-BR) e Santina (TL)
•    Organização do Trabalho Pedagógico – Vladimir (SP-BR) e Francisco (TL)
•    Fundamentos da Educação – Rosiete (BA-BR) e João (TL)
•    Identidade, Sociedade e Cultura – Alan (RS-BR) e António Saldanha (TL)

Cada dupla de professores com formação específica na área, orienta 8 professores-tutores – 2 em Dili, 1 em Atauro, 1 em Tibar, 3 em Maometa e 1 em Maubara – que, por sua vez, são responsáveis por uma turma de cerca de 10 professores-cursistas. Atualmente há 84 cursistas e tanto eles quanto os tutores têm apenas o diploma do ensino fundamental e foram selecionados para o Programa pelo simples fato de serem fluentes em Língua Portuguesa. Bem, “fluentes” já é demais, mas podem comunicar-se em Português, digamos assim.

Como os tutores não possuem formação alguma, precisam ser instruídos por nós para poder orientar os cursistas. Resumindo: um exército de Brancaleone que vem derrotando o analfabetismo em Timor nos últimos cinco anos com a bravura dos rebeldes de Timor aliada ao jogo de cintura natural dos brasileiros para driblar a “fartura”. “Farta” material, “farta” dinheiro, “farta” tudo, mas sobra boa vontade e assim vai-se levando.

Adorei conhecer o grupo todo hoje e mais ainda: amei o interesse deles na minha aula. Amo os meninos do ISERJ da paixão e não quero dar aula no Brasil em outra escola, mas a atenção dos tutores do Profep bebendo cada palavra que eu dizia, fez reacender a chama da educadora que vive adormecida dentro de mim e que não era tão sacudida há cerca de...  quatro anos!






À noite, apesar do longo dia de trabalho, fui jantar com Lotte no Vasco da Gama. Foi muito legal imaginar a cara daqueles que nos consideravam duas “patricinhas”, e que achavam que não agüentaríamos três meses em Timor-Leste, se nos vissem juntas ainda aqui, cinco anos depois. Bem, eu voltei ao Brasil e só retornei a Timor quatro anos depois. Lotte está aqui sem ver Christian (seu único irmão) e sua São Paulo querida desde março de 2005. Lotte trabalha na Care International desde outubro de 2006 e é a responsável por uma publicação educativa em Português e Tétum chamada Lafaek (Crocodilo), voltada para atender ao currículo das quatro séries iniciais como material de apoio paradidático. Lotte manteve-se magra e está ainda mais bonita sem os óculos. Workaholic como sempre e feliz como nunca, foi assim que a vi nesse reencontro. Não sei porque, mas acho que me envolvi tanto nas lembranças que acabei esquecendo de registrar o encontro com uma foto – meu lado japonesa – mas não há de faltar oportunidades.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

02 de fevereiro de 2010 – Rotina



Nem eu nem você, que me acompanha através desse blog, acreditávamos que haveria alguma coisa interessante para registrar a cada dia. Minha vidinha em Timor segue um início de rotina: acordar, me arrumar para o trabalho, dar comida para a macaca (o Chico era Chica, ou a Coca-Cola era Fanta, como dizia Raimundo), esperar pelo carro da embaixada, cumprir minhas tarefas no Profep, almoçar em algum restaurante,... por aí vai.

Hoje tivemos que responder um questionário proposto por um grupo do MEC-BR e que virá aqui ainda este mês para passar uns dez dias avaliando o trabalho do Profep. Claro que eu pouco pude contribuir nas respostas, já que referiam-se ao período em que eu ainda não estava aqui, mas foi bom acompanhar os colegas, até para ter uma idéia melhor do que já foi feito. No próximo Sábado vou fazer minha primeira viagem pelo Profep e irei a um lugar chamado Maumeta com os colegas Alan (Filosofia) e Vladimir (Pedagogia).  Maumeta é um Suco, subdivisão de um Subdistrito (Bazartete), subdivisão de um Distrito (Liquiçá). Descobri (Google, sempre Google) que há outras localidades com esse nome aqui em Timor. Tem Maumeta no distrito de Aileu e também na ilha de Ataúro, mas o Maumeta que vou visitar no Sábado é esse aqui pertinho de Dili e talvez nem precise tomar um Dramim. No meu único passeio a Aileu, em agosto de 2005, botei pra fora até meu último jantar no Brasil, seis meses antes! Bem, na dúvida, levo o Dramim na bolsa, mas espero que tudo corra bem.

A boa notícia do dia foi que saiu a ajuda de custo oferecida pelo governo de Timor-Leste, no valor de $300.00 USD por mês. É o exato valor do meu aluguel e como parece que meu primeiro pagamento da Capes só virá no fim do mês, qualquer ajuda é bem vinda. Ao menos não serei despejada daqui da casa do padre onde estou tão bem acomodada. Pra celebrar a repentina riqueza, fiz pé e mão no salão da Maria, a cabo-verdiana casada com Pedro, o juiz. Eu os conheci em 2005, pois eram vizinhos da Lúcia Inês. Maria tem esse salão, muito bem montado para os padrões timorenses e o serviço de pedicure e manicure sai por $20.00 USD.

Outra boa nova é o calendário do Profep que incorporou os feriados do Procapes, ou seja, uma semana livre pelo Carnaval e depois mais outra pela Semana Santa. Como não devo ter muito dinheiro até o Carnaval, estou planejando uma volta olímpica pelo país, mas na Semana Santa, se Deus quiser e me ajudar, vou a Bali e a mais algum lugar pela Ásia. Em 2005/2006 eu só trabalhei, trabalhei, trabalhei. Não é que agora eu não vá trabalhar, mas não volto ao Brasil sem conhecer a China, e se promessa é dívida, eu devo essa viagem a mim mesma. CAPES-Tour: me aguarde!

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

01 de fevereiro de 2010 – Não é Velox nem Virtua (nem uma Brastemp), mas funciona


Hoje, finalmente, instalaram nosso acesso à Internet em casa! Uh-uh!!! Eu e Erivelto dividimos o investimento inicial de $265.00 USD para termos esse pequeno conforto. Quando que, no Timor de 2005, eu cogitaria ter Internet ao alcance da mão em meu próprio quarto? Claro que foi um parto difícil, com direito à instalação de um poste no jardim do padre, mas também é bom pra eles porque, quando sairmos daqui, os próximos locatários já terão a estrutura da rede – wireless que é pra ser bem chique!

Timor-Leste é realmente um país criança que cresce da noite para o dia. Pra não dizer que ninguém mais grita malae quando eu passo, isso aconteceu ontem, no mercado de Komoro, para onde arrastei o Betão atrás de um cesto de palha onde colocar roupa suja. Aqui temos uma máquina de lavar que precisaria ser lavada e desinfetada antes de ser usada – não tem condição – além de um varal pequeno e sempre abarrotado de roupas das mil crianças da família do padre. Sobrinhos, olha a maldade! Um cesto de roupa suja pode ser levado até o Venture Hotel, a cem metros daqui, e as roupas voltam limpas e relativamente passadas no dia seguinte por $5.00 USD. No mercado de Komoro eu tive o “prazer” (?) de ouvir as crianças gritando “Malae! Malae! Malae!” quando me viram.

Já vi soro fisiológico à venda em uma farmácia – artigo inexistente há cinco anos – e o carro do “saneamento” passa aqui, dia sim, dia não, para recolher o lixo. Todas boas surpresas.

E por falar em surpresa, preparamos uma festa surpresa para um colega do Profep que aniversariou ontem. Encomendei um bolo de chocolate recheado com côco no Café Aroma e Simone ainda escreveu “Parabéns Vladimir” por cima, com direito a decoração de cerejas. Um mimo! Definitivamente o grupo de 2010 difere em muitos sentidos do de 2005 – diferenças nem sempre são positivas ou negativas, mas são diferenças... – e o que mais sinto falta é da cumplicidade de um grupão. Podíamos ter lá nossas diferenças, mas na hora de um pega-pra-capar, havia um sentimento de grupo, uma unidade. Hoje, quando fui convidar os colegas de Procapes para a festa, houve quem perguntasse, “Quem é Vladimir?”. Detalhe: fui a última a me juntar ao grupo e os outros 33 professores estão aqui há três meses. Em 2005 a gente, às vezes, brigava feito cão e gato, mas sabíamos os nomes de todos os 48 colegas, mas não estou aqui para saudosismos. Diferenças nem sempre são melhores ou piores, são apenas diferenças.

30 e 31 de janeiro de 2010 – O International Cena


Este prometia ser mais um final de semana que eu passaria sem nada de especial para relatar. No meu primeiro fim de semana em Timor, eu tinha acabado de chegar e ainda por cima estava doente, logo, não aproveitei quase nada.

Desta vez, o problema foi com a descarga do meu banheiro que o senhorio ficou de consertar mesmo antes de eu vir morar aqui e em Timor, como no Brasil, operários da construção civil parecem divertir-se nos fazendo esperar por eles. Como o senhorio trabalha como motorista da ONU durante a semana, e qualquer conserto deve ser feito sob sua supervisão, isso só pode acontecer nos fins de semana, logo... olha eu aqui esperando pelo pedreiro e pelo bombeiro que iriam trocar o vaso inteiro.

Às onze da manhã, como ninguém aparecera ou dera satisfação, resolvi fazer uma faxina caprichada e saí limpando tudo com desinfetante perfumado. A suíte – pois é nisso que vivo, numa suíte – ficou brilhante e cheirosa. Pois foi só eu dar o último retoque da faxina que os caras apareceram carregando um vaso sanitário com a respectiva caixa de descarga pra instalar no meu banheiro.

Minha primeira reação foi, “Isso não entra no meu banheiro hoje de jeito maneira!!!”, mas aí veio o Betão, mais conhecido como Tio Chico, um diplomata nato, ponderando que os rapazes já estavam ali mesmo, que o senhorio (o padre!) já comprara a privada, blá-blá-blá, e me convenceu a deixá-los entrar. Quando vi a maqueta de quebrar azulejos quase chorei, mas eles prometeram deixar tudo limpo e terminar o serviço em duas horas. Cerca de cinco horas mais tarde, saíram deixando tudo recoberto de pó e uma caixa de descarga que solta água por todos os lados.

O irmão do padre que administra as suítes, Sr. Juvenal, prometeu trazer o bombeiro para consertar a nova privada no Domingo pela manhã. Bem, às quase duas da tarde, quando saí para almoçar, ninguém aparecera, incluindo o Sr. Juvenal.

Foi aí que Rama telefonou para convidar a mim e Roberto para um jantar em sua casa. Era aniversário de seu marido, Bruno, e eu ansiava por conhecer não só o pai, mas também Kiana e Leonor, as duas filhinhas de minha amiga.

Rama continua a viver na antiga casa no Delta e eu disse a ela que não se preocupasse, pois eu me lembrava do caminho e, inclusive, guardara por mais de quatro anos o mapa que fora distribuído entre os amigos brasileiros quando da inauguração da casa em 2005.

Foi muito agradável. Rama continua sendo uma ótima cozinheira e Bruno é uma simpatia. As meninas são lindas, apesar de, por enquanto, não se parecerem com a mãe, que já foi considerada a mulher mais bonita de Timor-Leste. Os amigos, como costuma acontecer nas festas de Rama, vêm de todos os cantos do mundo. Havia um do Canadá, uma de Kosovo, uma do Chipre, dois da Austrália, e nós, os brasileiros. Bruno é português e Rama, iraniana. A comunicação aconteceu em tantos idiomas e sotaques diferentes que Roberto ficou até tonto, apesar de só beber água. O mais engraçado foi ver as crianças presentes falando também uma mistura de Português, Inglês e Tétum. Entre os adultos também rolava um pouco de Espanhol. Era an international dinner, meio una cena internacional com um toque dos jantares internacionais e poliglotas tão comuns aqui em Timor, terra de expatriados. Welcome, malae sira!