Às vezes as pessoas me cobram uma “conversão” religiosa. Não é que eu seja uma pessoa sem fé, mas não consigo me ver seguindo cegamente dogmas, nem que tenham sido escritos pelas mãos do Todo Poderoso.
Hoje eu me assustei com a postura dos membros da equipe do extinto (?) Proformação do Brasil que estão aqui desde ontem para dar suporte a nós daqui do Profep. Pelas falas de alguns deles, parece que o programa é perfeito e que ao assumirmos a posição de professores-formadores temos que vestir a camisa, fazer juras de amor e fidelidade eternos... Puxa, se isso nunca deu certo comigo nem quando estava apaixonada!
Na verdade o grupo chegou no fim de semana, mas só nos encontramos ontem lá no INFPC. Vieram do Brasil: Wanda, gestora do Profep de 2005 a 2007; Vania, do MEC; Marilac, coordenadora do Profep na missão passada e mais três pessoas que trabalharam no Proformação no Nordeste e hoje, pelo que entendi, trabalham no Proinfância, o programa criado para substituir o Proformação. Senhorinha, que hoje caiu de cama com dengue, parecia estar um pouco desconfortável com a vinda do grupo, como se achasse que eles viriam fazer uma avaliação da atuação do Profep nesta que promete ser sua última etapa. Apesar da indisposição e febre, preparou uma recepção muito simpática com entrega de táis, pelos professores timorenses, aos visitantes brasileiros. Todos nos apresentamos e o grupo saiu para preparar uma “resposta” às nossas colocações, e foi só o que aconteceu no primeiro encontro.
Hoje o dia já não começou bem pra mim. O carro da embaixada se atrasou e quando liguei pra Senhorinha pra saber o que estava acontecendo, ela estava com uma voz péssima e disse ter piorado bastante durante a noite e que o carro estava parado na porta do hotel esperando pelo grupo visitante. Preferi tomar um taxi pra não me aborrecer. Hoje, nem levei o laptop porque teríamos uma reunião com o pessoal do Proformação pela manhã e, à tarde, eu viria pra casa pra preparar a prova bimestral. Quando cheguei ao INFPC, não havia energia elétrica e Wanda resolveu inverter a agenda, ou seja, eu ficaria a manhã toda sem poder fazer nada, e teria reunião à tarde. Confesso que essa mudança em nada contribuiu para melhorar meu mau humor...
Resolvi aproveitar a manhã perdida para conversar com o professor de Matemática do grupo – um cearense chamado Paiva – e falar sobre o conteúdo que aborda de desvio-padrão à análise combinatória, passando pela resolução de sistemas lineares de três equações e três incógnitas por escalonamento. Ele até começou a falar com aquele jeito de quem foi abduzido por uma entidade superior dizendo, nas entrelinhas, que o programa era seu pastor e que nada faltava ali para que fosse uma perfeição. Como minha causídica predileta diz que já nasci advogada (rss), apresentei uma argumentação bem realística provando por A+B (como boa matemática que, na realidade, sou) que aqueles tópicos só serviam para ocupar espaço, de papel e de tempo, que poderia ter sido usado com mais propriedade dentro da realidade do país. E não me refiro só ao Timor, mas quantos professores-tutores, pelo nosso Brasil a dentro, serão capazes de resolver sistemas intrincados por escalonamento? No final, o Paiva abriu o jogo. Aquilo ali só está nos guias de estudo para constar e dar fundamentação à certificação dos professores-cursistas que é equivalente a do curso Normal. O segredo é usar o bom senso e simplesmente “pular” as páginas que não serão compreendidas pelos timorenses nem no dia em que Mari Alkatiri cumprimentar Ramos Horta com dois beijinhos.
Quando retornamos do almoço, a energia ainda não havia sido restabelecida e chovia cântaros. Fomos para o auditório (?) onde Wanda faria um histórico do Profep de 2005 até hoje, além de uma apresentação formal da proposta do Proformação. Foi então que meu queixo caiu.
Quando ela fala sobre o Programa, parece uma coruja falando de um pimpolho todo errado, mas que a mãe só é capaz de ver as qualidades e achar bonitinho. O material, segundo ela, foi produzido por profissionais extremamente gabaritados e revisto por especialistas em linguística para adaptá-lo à forma de EAD (Educação à Distância). O conteúdo gira em torno de eixos temáticos e é contextualizado dentro da realidade do público alvo. Cada tópico tem sua especial razão de ser e de estar colocado exatamente no lugar certo, e apesar de dizer que o programa não está “engessado”, é impossível alterar uma linha que seja. Nem quando falou da emoção de ver formada a primeira turma do Profep em fevereiro de 2008, ou de relembrar das dificuldades enfrentadas durante o período dos conflitos em 2006, Wanda parecia tão “tomada” como quando falou da estrutura pedagógica dos guias de estudo. Em alguns momentos, a empolgação dela defendendo o Programa me lembrou um pastor evangélico indonésio chamado Tati que passou um tempo na casa da Simone em 2005. Eu não entendia uma palavra do sermão dele em bahasa indonésia, mas o cara era tão envolvente que quase me levou às lágrimas. Eu confesso que não compreendo essa adoração cega ao Proformação – apesar dos bons resultados apresentados, o Programa foi extinto no Brasil... – mas entendi o recado e vou seguir usando meu bom senso e jamais perderei tempo tentando mudar uma vírgula nos guias.
Voltando ao clima de culto religioso, de repente meu amigo Antonio pareceu ter recebido a mesma entidade. Eu levei um susto quando ele pediu a palavra (estava sentado atrás de mim e, literalmente, me acordou) e disse que acreditava estar falando em nome de todos os professores-formadores. Falou da admiração que sentia pelo grupo pioneiro que dera seu sangue (?) pela implantação e continuidade do Programa, e foi por aí a fora, concluindo : “Estou me sentindo verde como a toalha dessa mesa e como as montanhas de Timor na época das chuvas!”. Antonio por pouco não tirou o título de “Rei dos Elogios” daquele maluco do Youtube (Carro-Velho é o nome dele) que fica inventando palavras na rádio em Quixeramobim.
Diante do exposto, pedi licença e saí mais cedo pra poder, finalmente, preparar minha prova e me afastar do risco de ser contagiada pelo espírito de “Ave, Proformação!” que se instaurou por aqui. Meu consolo é que, apesar de amanhã termos o dia inteiro de encontro com os tutores, na quinta-feira, logo pela manhã, viajo para Atauro com a Rosiete. Prefiro andar 20 km com o sol me cozinhando a moleira pra acompanhar a prática pedagógica nas escolas da ilha, que ficar aqui e me tornar mais uma Proformação-de-carteirinha. Dá uma zebra e eu também incorporo esse encosto... Epa-hei Iansã!
Resolvi aproveitar a manhã perdida para conversar com o professor de Matemática do grupo – um cearense chamado Paiva – e falar sobre o conteúdo que aborda de desvio-padrão à análise combinatória, passando pela resolução de sistemas lineares de três equações e três incógnitas por escalonamento. Ele até começou a falar com aquele jeito de quem foi abduzido por uma entidade superior dizendo, nas entrelinhas, que o programa era seu pastor e que nada faltava ali para que fosse uma perfeição. Como minha causídica predileta diz que já nasci advogada (rss), apresentei uma argumentação bem realística provando por A+B (como boa matemática que, na realidade, sou) que aqueles tópicos só serviam para ocupar espaço, de papel e de tempo, que poderia ter sido usado com mais propriedade dentro da realidade do país. E não me refiro só ao Timor, mas quantos professores-tutores, pelo nosso Brasil a dentro, serão capazes de resolver sistemas intrincados por escalonamento? No final, o Paiva abriu o jogo. Aquilo ali só está nos guias de estudo para constar e dar fundamentação à certificação dos professores-cursistas que é equivalente a do curso Normal. O segredo é usar o bom senso e simplesmente “pular” as páginas que não serão compreendidas pelos timorenses nem no dia em que Mari Alkatiri cumprimentar Ramos Horta com dois beijinhos.
Quando retornamos do almoço, a energia ainda não havia sido restabelecida e chovia cântaros. Fomos para o auditório (?) onde Wanda faria um histórico do Profep de 2005 até hoje, além de uma apresentação formal da proposta do Proformação. Foi então que meu queixo caiu.
Quando ela fala sobre o Programa, parece uma coruja falando de um pimpolho todo errado, mas que a mãe só é capaz de ver as qualidades e achar bonitinho. O material, segundo ela, foi produzido por profissionais extremamente gabaritados e revisto por especialistas em linguística para adaptá-lo à forma de EAD (Educação à Distância). O conteúdo gira em torno de eixos temáticos e é contextualizado dentro da realidade do público alvo. Cada tópico tem sua especial razão de ser e de estar colocado exatamente no lugar certo, e apesar de dizer que o programa não está “engessado”, é impossível alterar uma linha que seja. Nem quando falou da emoção de ver formada a primeira turma do Profep em fevereiro de 2008, ou de relembrar das dificuldades enfrentadas durante o período dos conflitos em 2006, Wanda parecia tão “tomada” como quando falou da estrutura pedagógica dos guias de estudo. Em alguns momentos, a empolgação dela defendendo o Programa me lembrou um pastor evangélico indonésio chamado Tati que passou um tempo na casa da Simone em 2005. Eu não entendia uma palavra do sermão dele em bahasa indonésia, mas o cara era tão envolvente que quase me levou às lágrimas. Eu confesso que não compreendo essa adoração cega ao Proformação – apesar dos bons resultados apresentados, o Programa foi extinto no Brasil... – mas entendi o recado e vou seguir usando meu bom senso e jamais perderei tempo tentando mudar uma vírgula nos guias.
Voltando ao clima de culto religioso, de repente meu amigo Antonio pareceu ter recebido a mesma entidade. Eu levei um susto quando ele pediu a palavra (estava sentado atrás de mim e, literalmente, me acordou) e disse que acreditava estar falando em nome de todos os professores-formadores. Falou da admiração que sentia pelo grupo pioneiro que dera seu sangue (?) pela implantação e continuidade do Programa, e foi por aí a fora, concluindo : “Estou me sentindo verde como a toalha dessa mesa e como as montanhas de Timor na época das chuvas!”. Antonio por pouco não tirou o título de “Rei dos Elogios” daquele maluco do Youtube (Carro-Velho é o nome dele) que fica inventando palavras na rádio em Quixeramobim.
Diante do exposto, pedi licença e saí mais cedo pra poder, finalmente, preparar minha prova e me afastar do risco de ser contagiada pelo espírito de “Ave, Proformação!” que se instaurou por aqui. Meu consolo é que, apesar de amanhã termos o dia inteiro de encontro com os tutores, na quinta-feira, logo pela manhã, viajo para Atauro com a Rosiete. Prefiro andar 20 km com o sol me cozinhando a moleira pra acompanhar a prática pedagógica nas escolas da ilha, que ficar aqui e me tornar mais uma Proformação-de-carteirinha. Dá uma zebra e eu também incorporo esse encosto... Epa-hei Iansã!
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