Olha… estou até me sentindo culpada por quase ter excluído o Cambodia da minha rota nessa viagem... O Cambodia tá dando de dez a zero no Laos! O Vietnam é o Vietnam, já expliquei bastante por aqui minhas razões para querer conhecê-lo. Já tive a surpresa de ver que Hanoi é muito mais interessante que Saigon (Ho Chi Minh City), mas o Laos ficava na minha lista de lugares místicos e, como também já falei, me deixou um pouco desapontada. Sobre o Cambodia, além das histórias das muitas guerras e do governo de Pol Pot, eu na verdade pouco sabia e só acrescentei-o no roteiro para fechar a viagem pela Indochina e também por causa do templo Angkor cuja história só vim a conhecer pela associação com Borobudur, em Yogyakarta. Aliás, estou ainda para escrever sobre minha viagem à Ilha de Java em junho, mas vou ficar devendo.
Pois bem, estou hospedada no melhor hotel até agora nessa viagem, incluindo aí o hotel em Jakarta que não estava previsto. O curioso é que é disparado o mais barato, como tudo aqui. Estou encantada com Siem Reap, gente!
O aeroporto é até luxuoso, considerando o tamanho da cidade e, não enfrentei burocracia alguma, graças ao visto tirado pela Internet. Na hora de preencher aquelas papeletas que nos dão no avião, havia um campo para o número do visto e coloquei lá. Quando cheguei ao balcão da imigração, só avisei que já tinha o visto e me liberaram em dois minutos. Enquanto os gringos todos estavam na fila preenchendo mais formulários e pagando taxas, eu já estava pegando o taxi pra vir para o Angkor PhC Hotel. Ah, e aqui eles aceitam dólares em todos os lugares, logo, além de não ter que trocar dinheiro, também não é preciso ficar fazendo mil cálculos pra avaliar os preços das coisas. O taxi custou cinco dólares, pagos no balcão de controle do aeroporto.
A cidade não enche os olhos com a beleza das construções como Luang Prabang. No caminho entre o aeroporto e o hotel, achei que parecia mais uma miniatura empobrecida de Brasília, com um hotel atrás do outro, todos naquele gênero que detesto. Fiquei até com medo de ter escolhido um hotelzão daqueles, com mil quartos distribuídos em muitos andares, mas meu hotelzinho é bem aconchegante. O rapaz da recepção, Ming, fala um Inglês impecável, considerando que é asiático, e se prontificou a me orientar nas excursões aos pontos de maior interesse turístico, como aliás, também o fizeram nas recepções dos outros hotéis, não posso me queixar. A diferença foi que, ao invés de me oferecer um pacote milionário como em Luang Prabang, me indicou o risonho Li Hor e seu tuk-tuk.
Nessa última semana só não andei em lombo de burro, mas acho que falta pouco. Em Saigon contratei um motociclista – que desapareceu depois do primeiro museu – e acabei voltando ao hotel numa carroça puxada por um velhinho artrítico que me deu tanta pena que quase me ofereci para carregá-lo eu mesma. Nas outras cidades contratei taxis, vans, ônibus e barcos. Aqui estou para cima e para baixo sentada num tuk-tuk. Li Hor é tailandês e foi monge por dez anos. Me conquistou não só pelo sorriso, mas pelo bom Inglês e pela gentileza que fez me presenteando com um bambú cheio daquele arroz grudento que eles adoram por aqui. Acho que não vou conseguir comer aquilo, mas foi legal receber essa atenção.
Comecei almoçando num restaurante bem bonitinho onde recebi meu primeiro tem-mas-acabou da viagem. No cardápio, havia um prato de lagosta que custava 6.5 dólares, mas... acabei almoçando o inevitável arroz frito. De lá, fomos para o Templo Angkor e, por ignorância, comprei entrada para só um dia (12 dólares). Vindo a Siem Reap comprem a entrada para o número de dias que pretenderem ficar na cidade, pois não dá pra ver tudo num só dia. No meu caso, meio dia.
Sabe toda aquela energia mágica e espiritual que esperava encontrar em Luang Prabang e não consegui? Pois estava aqui em Siem Reap, esperando por mim. O lugar é tão especial que nem a multidão inevitável de turistas japoneses consegue atrapalhar. Bem... em parte. Algumas das fotos que parecerão mal enquadradas devem-se às minhas tentativas de evitar os japas. Japoneses, chineses, singapurianos, sei lá. Eles estão em todos os lugares, mas não os quero no meu álbum. Aliás, não quero turista algum além de mim mesma, claro, e nesse ponto os japoneses são ótimos, sempre tiram minhas melhores fotos.
Engraçado que eu queria pegar um ângulo especial do interior do templo, já que o exterior está em obras, cheio de redes de proteção horrorosas, mas tinha um homem parado exatamente no lugar onde eu queria me posicionar. Pulei na frente dele e reparei que um grupo de japonesas estava posando para uma foto e entendi que o cara só estava esperando que elas saíssem. Rimos da situação e trocamos algumas palavras em Inglês. Uns quinze minutos depois nos encontramos novamente e o homem estava conversando com outro... em bom Português carioca! Eles trabalham na China, em alguma coisa relacionada a petróleo, me parece, e estavam aproveitando uns dias de folga para fazer o mesmo circuito que eu.
De Angkor fui para Bayon e parei em alguns outros templos menores, não sem fazer umas comprinhas, é óbvio, mas sempre de olho no relógio porque tinha que encerrar o passeio às seis da tarde quando fecham o complexo. Li Hor sugeriu que eu fosse assistir o pôr do sol de cima de uma montanha, mas quando vi a escadaria preferi voltar para o hotel. Minha intenção era descansar um pouco e ir assistir um show de danças locais só que, para fazer isso, mal teria tempo para uma chuveirada e, além do mais, tinha que recarregar a bateria da minha câmera. Bem que Sansão me aconselhou a ter uma bateria de reserva, mas agora é tarde. Se der, vejo o pôr do sol e as danças amanhã. Por hoje, o show de beleza e a aura do lugar já foram bastante e certamente me fizeram um bem enorme.
Talvez tenha sido pelas preces dos monges, talvez pela calma dos cisnes no lago... minha câmera pode estar precisando de recarga, mas minha alma já carregou a bateria o bastante para enfrentar os últimos 76 dias que serei obrigada a passar ainda em Timor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário