Não sei porque faço tanta questão de estar aqui. O café da manhã é sofrível, os quartos precisam de modernização, não tem Internet e a rua é das mais caóticas da cidade. Talvez o que me traga aqui todas as vezes que venho a Bali é a possibilidade de reencontrar meus fantasmas. Lembra-me a Telma loura, bronzeada e magrinha que chegou aqui pela primeira vez há exatos cinco anos. Quanta coisa mudou e nem estou pensando nos cabelos grisalhos – que, afinal já existiam, só estavam disfarçados – na pele tão branca que faz todos me confundirem com uma australiana, nem nos dez quilos a mais. Falo das coisas em que eu acreditava, dos ideais que levava como estandartes e, principalmente, da saudade que sinto daqueles dias e das pessoas com quem eu dividia aqueles momentos. Voltei a Timor para reencontrar tudo isso, mas fui exposta à realidade que me negava a aceitar. O passado não volta. O tempo é cruel e invencível. E se não posso vencê-lo, o jeito é unir-me a ele e aprender a não desperdiçá-lo. Quantas e quantas vezes já me passou pela vida a sensação de que deveria ter feito algo e que “agora já era”. Quantas vezes mais vou me sentir assim? Quantas oportunidades mais vou deixar passar? Suponho que ainda muitas, infelizmente a vida é assim... ou, pelo menos, minha vida é assim. Talvez um dia eu me torne sábia o bastante ao ponto de poder confiar na minha própria intuição, mas por enquanto, sigo em frente tentando errar menos, carregar menos arrependimentos.
Lembro da série televisiva “Arquivo X” cuja abertura apresentava a frase, “A verdade está lá fora.”. Que tolice! Só mesmo um seriado sobre extraterrestres para lançar um bordão desses. Talvez isso se aplique para marcianos e venusianos, mas para gente de carne e osso desse planeta, a verdade está aqui dentro. Já disse mil vezes que atravessei o mundo tentando encontrar a mim mesma. Acreditei ter me encontrado e me esquecido por aqui, daí tive que voltar para me buscar. Talvez este tenha sido o maior sucesso desse meu retorno à Ásia. Me achei de novo, só que não foi a mesma que pensei ter vindo buscar, mas uma outra que pode não ser tão glamorosa e atraente, mas é muito mais real e centrada. E é com essa Telma pouco interessante que vou conviver pelo resto da vida, logo é melhor ir aprendendo a gostar dela.
Viver sem alimentar ilusões e, de novo, sem colocar expectativas, vai ser difícil para uma sonhadora nata como eu, mas talvez tenha chegado a hora de, finalmente, amadurecer e se na idade da razão se sonha menos, talvez seja porque se tem menos necessidade de sono e há muito que me satisfaço em dormir apenas seis horas por noite. E, por falar nisso, já é quase meia-noite e amanhã Ketut vem me buscar cedo para me levar a Denpasar. Tenho que ir buscar meu celular no conserto e voltar ao infoshopping pra comprar o presente do Anderson. Também quero dar uma passada nas fábricas de joias para repor o colar perdido em Luang Prabang. Ah, e o bendito tênis do Kleto além dos remédios da Gladcya. Depois, estou pensando em ir a um spa feito o Body Works para depilação e manicure. Posso estar velha e gorda, mas se descuidar demais da aparência não vou conseguir me gostar de jeito nenhum (rss).
Vou dormir para talvez, em sonhos, encontrar os fantasmas impregnados nas paredes do Masa Inn, mas vai ser bom acordar e saber que os sonhos têm seu tempo e lugar, e que a realidade pode não ser tão dura de conviver quanto parece.
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