Olá!

Bem vindos ao diário de uma brasileira em Timor-Leste - uma meia-ilha no outro lado do planeta que a todos encanta com a magia do canto de uma sereia.
Ou seria o canto de um crocodilo? Bem... em se tratando de Timor, lafaek sira bele hananu... :-))

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

21 de janeiro de 2010 – A Chegada






A primeira pessoa que vi no Aeroporto Internacional Presidente Nicolau Lobato foi o Betão, também conhecido como “Tio Chico”, o cara mais boa praça que se possa imaginar. Eu ainda esperava pela liberação da bagagem, mas fui olhar no saguão e lá estava meu amigo, carioca de primeira linha, a acenar para mim. A segunda foi Simone...

Voltei pra pegar as malas e dizia a mim mesma, “Não vou chorar! Não vou chorar! Não vou chorar!”. Não deu certo. Começou a passar um filme na minha mente, como naqueles flashs em que se imagina rever toda uma vida em segundos. Revi minha chegada aqui há quase cinco anos quando procurei por Simone em meio à multidão e ela não estava lá. Já estava a ponto de fazer beicinho de decepção quando surgiu a Roseli (Forganes), que me reconheceu das fotos no Orkut e veio me abraçar, dizendo que Simone estava atrasada, mas que telefonaria naquele instante para ela. Em poucos minutos apareceu a velha caminhonete do Levi e de lá saíram Simone, Sarah, Belinha e mais uma meia dúzia de crianças timorenses vestidas em táis e carregando bandeiras do Brasil e de Timor-Leste. Chega! Isso é passado!


No presente, hoje, Simone não se atrasou e abraçá-la de novo foi tão bom quanto um carinho de mãe. Sem bandeiras nem fanfarras – não era mais a chegada de um grupo pioneiro da cooperação brasileira, pronto para reconstruir a educação num Timor devastado pela guerra – apenas a volta de uma amiga saudosa pronta para recolher os pedaços aqui deixados em 2006. A professora Telma só chega na próxima segunda-feira, 25 de janeiro, até mesmo porque não havia ninguém da CAPES para me receber.


O Roberto avisou à embaixada e mandaram um motorista me buscar, logo, me achei na obrigação de me apresentar na embaixada assim  que me acomodei, mas como a tutora do meu programa tinha dito a ele que não fora avisada oficialmente de minha chegada – e, pelas costas dele, “Se é amiga dele, ele que vá buscá-la no aeroporto” – achei que precisava organizar minhas coisas e descansar um pouco antes de fazer um contato “oficial” com o pessoal local da CAPES. Com Brasília, não! Mal deixei as malas em casa (*), fomos – eu e Betão – abrir uma conta no Banco ANZ. Já saímos dali para um cyber café e cadastrei minha conta no BEX, além de mandar um e-mail para a coordenação no Brasil participando minha chegada e informando os dados bancários. Quero só ver em que dia vou receber esse primeiro pagamento...

Voltando a falar de Simone, fui tomar café da manhã com ela e Isabela – que já está grande e tornou-se uma devoradora de livros – no “Café Aroma”, um novo local para Simone continuar distribuindo sua generosidade. Ela agora trabalha com vítimas de violência sexual e mantém uma casa com meninas entre três e dezoito anos que foram estupradas por algum membro da própria família e que, depois de denunciarem a violência, não têm mais para onde ir. Como a casa já estava lotada e algumas moças passando dos dezoito, Simone montou um pequeno, mas muito simpático restaurante, onde ensina culinária às jovens timorenses que tiram daí seu sustento, além de morarem na Casa Vida, atrás do próprio Café Aroma. Resumindo: Simone resgata as meninas violentadas, dá-lhes abrigo, ensina-lhes uma profissão e oferece-lhes o trabalho para que possam seguir por conta própria a partir daí. Tudo isso sem contar com os bebês, frutos desses estupros, que ao nascer também são acolhidos por essa mulher mais que especial. No Sábado haverá a festa de um ano da primeira criança nascida na Casa Vida e Simone já está fazendo os convites.

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