Olá!

Bem vindos ao diário de uma brasileira em Timor-Leste - uma meia-ilha no outro lado do planeta que a todos encanta com a magia do canto de uma sereia.
Ou seria o canto de um crocodilo? Bem... em se tratando de Timor, lafaek sira bele hananu... :-))

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

22 de janeiro de 2010 – Calçadas de Dili



Meu primeiro dia em Timor-Leste em 2010 não foi muito diferente do primeiro dia em 2005. O corpo tentando driblar o cansaço e a sonolência, ao mesmo tempo que a adrenalina no organismo força o cérebro a um excesso de atividade. Acabei pegando no sono às nove da noite, mas acordei às cinco da manhã e não consegui dormir mais. Às sete da matina lá estava eu na rua para fazer um re-reconhecimento da área.

Em 2005, um ponto de encontro dos brazucas era o restaurante Erli, mais conhecido como “Dedinho”. Pela proximidade com a UNTL (Universidade Nacional Timor Lorosae), tornou-se uma opção fácil e barata para o almoço dos professores, com seu buffet farto e preços variando entre $1.50 e $3.50 USD. Um belo dia, alguém percebeu que a porção de arroz cuidadosamente arrumada em forma de cuia, era ajeitada com o dedo pela atendente e daí nasceu a denominação “Dedinho”. Esse apelido permaneceu e professores das missões de 2007 e 2008 continuaram a chamar assim o restaurante Erli. Pois bem, soube que o Dedinho não existia mais, assim como o City Café e o Exótica e resolvi sair em campo numa busca ao passado perdido.

Descobri que estou morando a poucos metros do restaurante Tropical, outra opção de almoço do antigo grupo. Esse continua igualzinho e acho que até o preço do Buffet é ainda o mesmo ($5.00 USD). O Banco ANZ mudou o logo e a cabine da polícia em frente ganhou uma nova pintura firmando a cooperação entre a ONU e o governo local. O City Café agora chama-se Katua’s Hotel e o restaurante é a la carte (dizem que bem caro). Alguns lugares permaneceram iguais, como a loja da Fujifilm onde tirei fotografia assim que cheguei aqui em 2005 (e repeti a dose hoje); outros mudaram radicalmente, como o centro cultural que era conhecido como “Casa Vermelha” e agora é “Casa Europa”, pintado de amarelo e com o símbolo da União Européia.

De repente me dei conta – desligada como sempre – que não estava tropeçando nem torcendo o tornozelo a cada três passos. Olhei para o chão e vi as calçadas. Eu estava caminhando há meia hora sem perceber que a rua está com o asfalto lisinho e que há meio-fio e calçadas para os pedestres. As calçadas são em vermelho e preto como a bandeira de Timor-Leste!

Comparo a emoção que senti nessa hora com a de uma mãe que, orgulhosa, vê que o filho cresceu o bastante para poder caminhar com as próprias pernas. Timor cresceu nesses quatro anos, amadureceu e quer mostrar essa autossuficiência pintando nas cores nacionais cada pequena realização. Talvez ainda esteja nos primeiros passos e um pouco cambaleante, mas vai firmando o pé com determinação. Fiquei tão feliz que até pedi que um grupo de rapazes posasse para uma foto em frente ao antigo cyber café do Sugar que, segundo entendi, num diálogo em Português-Inglês-Tétum com eles, teve problemas aqui e foi obrigado a voltar para a China.

Continuei a caminhada passando pelos correios e pelo Instituto Camões. O Palácio do Governo me pareceu maior, mas talvez seja só a impressão causada por uma pintura nova. O queimado “Hello Mister” continua no esqueleto, mas a feirinha em frente está com ares de “camelódromo” de tão organizada. Ainda não eram 8:00h e o movimento de carros era quase nenhum e resolvi atravessar a rua para ver o que havia agora no lugar do Erli e... surpresa! O “Dedinho” continua lá, firme e forte, fora apenas um alarme falso. Já decidi: assim que começar a trabalhar, meu primeiro almoço será no velho e bom “Dedinho” e vou fazer questão de pegar um bom pedaço de frango dourado no açúcar pra me sentir novamente “em casa” no Timor-Leste.

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