Olá!

Bem vindos ao diário de uma brasileira em Timor-Leste - uma meia-ilha no outro lado do planeta que a todos encanta com a magia do canto de uma sereia.
Ou seria o canto de um crocodilo? Bem... em se tratando de Timor, lafaek sira bele hananu... :-))

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

26 de janeiro de 2010 – Pouco Céu e Muitas Estrelas



Depois de dormir uma noite inteira sem levantar com cólicas intestinais, me senti quase nas nuvens. Acordar de bom humor não é uma constante no meu dia a dia, mas de vez em quando, em ocasiões especiais, isso acontece. Agora que os professores brasileiros têm um carro da embaixada pra levar e trazer pro trabalho, não posso me atrasar e desdenhar essa deferência tão especial, daí fui caminhando até o ponto (em frente ao Hotel Venture) numa disposição completamente diferente da de ontem, quando ainda me sentia um trapo.

Hoje tivemos uma reunião para debater um texto. A escolha do tema – Identidade – foi feita pela Rosilene, a professora de Português do Profep, que foi minha anfitriã ontem. Indicou a minha mesa, me ofereceu o texto para ler e ainda mostrou as fotos de uma visita às escolas em Liquiçá feita Sábado passado. Ainda está muito cedo para que eu possa afirmar alguma coisa sobre o trabalho ou os colegas, mas a recepção foi boa. Hoje, o colega-anfitrião foi o Alan, professor de Filosofia. Ele é o único do grupo, além de mim, que já tinha estado em Timor pela CAPES, e como trabalhava exatamente nesse programa, me explicou uma porção de particularidades que ontem, numa conversa inicial com a tutora, Senhorinha, tinham ficado ainda precisando de mais esclarecimentos. Por acaso, os três colegas citados são do Rio Grande do Sul, barbaridade chê!

Numa saidinha para fumar durante um intervalo, encontrei um jovem que trabalhava aqui em 2005, Alarico, que me reconheceu e imediatamente perguntou por Tarcísio e Raimundo. “Tilun-boot!” (orelhudo) disse ele ao lembrar como o Tarsa chamava o Rai, e riu aquele riso gostoso que só os timorenses sabem rir, um riso meio envergonhado, como se desculpasse por achar a coisa engraçada. O carinho desse rapaz ao lembrar-se dos amigos brasileiros me fez pensar em como, num céu pequeno demais para tantas estrelas, apenas aquelas que brilharam por verdadeiro mérito deixaram a marca que muitos desejavam (e poucos conseguiram) no coração do povo timorense. Em 2005 houve uma queda de braço entre egos elevadíssimos, e sempre me perguntei, “Pra quê?”. Todos ganhavam a mesma merreca e a luta para aparecer individualmente acabou comprometendo o trabalho de todo o grupo. Quem lucrou com isso? A fila andou e os nomes que estão impressos no material que hoje é distribuído por todo o país são os de Michelle Caldeira de Souza Silva (Linguagens e Códigos), Raimundo Santos Castro (Matemática e Lógica), Tarcísio Tinoco Botelho (Fundamentos da Educação) e Salvador Alexandre Magalhães Gonzaga (Organização do Trabalho Pedagógico), todos profissionais da melhor espécie, educadores de primeira, que trabalharam pelo bem coletivo sem se preocupar em receber coroas de louros. Onde estão os nomes daqueles que colavam nos coordenadores da CAPES como sanguessugas ou faziam tudo para aparecer em qualquer oportunidade? Passaram em branco ou desapareceram na branca areia da praia de Areia Branca.

Hoje também foi o dia de "inaugurar" a nova casa de Simone e Levi. Fomos eu, Roberto e Marina a uma sessão de cinema e pipoca na mansão dos Assis (rss) para assistirmos ao filme Balibo, sobre os cinco jornalistas australianos mortos pelas milícias indonésias em 1975 (http://fessora.multiply.com). A casa é relativamente perto da nossa e nem de longe lembra a casinha em Bebonuk onde eles moravam em 2005. Tudo está novinho em folha e a casa é mais espaçosa, mas ainda há muito para ser feito. Com o jeitinho especial de Simone para transformar pedra em ouro, a casa vai ficar fantástica em muito breve :-))

Um comentário:

  1. Mãe, saudades barak!!!
    Descobri meio que sem querer, este teu novo blog e me emocionei (como sempre) a refência a mim, à Michelle, Slvador e a Tarcísio (agora homem sério e casado!) me encheu de orgulho. Sinto falta desse pequeno pedaço de terra do qual sempre me lembrarei. Voltarei aqui pra ler seus textos e me deliciar com lembranças boas.
    Obs: Manda um abraço para o Alarico!!
    Te amo!!!
    Beijos na alma!!!

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