Olá!

Bem vindos ao diário de uma brasileira em Timor-Leste - uma meia-ilha no outro lado do planeta que a todos encanta com a magia do canto de uma sereia.
Ou seria o canto de um crocodilo? Bem... em se tratando de Timor, lafaek sira bele hananu... :-))

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

24 de janeiro de 2010 – Inauguração da Ruela do Erivelto




Comecei o dia indo a um culto organizado por Simone. Ela vivia numa casa na entrada do caminho para Areia Branca quando começou a acolher meninas vítimas de abuso sexual. O números de moças ficou tão grande que ela e Levi decidiram deixar a casa só para elas e alugaram outra para a família, que ainda está na fase de finalização das reformas. Enquanto isso, estão em casa de amigos, mas continuam se reunindo com as moças todos os Domingos pela manhã, e fomos, eu e Roberto, participar da reunião de hoje, que é um dia especial: hoje é o primeiro aniversário de Angel, a primeira criança nascida na Casa Vida. A mãe, de 14 anos, foi estuprada pelo próprio pai e a princípio queria dar a criança para adoção. Simone tentou, mas não conseguiu achar alguém que quisesse assumir um bebê fruto de um incesto e ofereceu todo o apoio possível à mocinha que deu seu depoimento emocionado durante o culto de hoje. À tarde houve a festa de aniversário propriamente dita, mas não pude ir porque Roberto convidou alguns professores da missão para a inauguração de seu novo quarto e, além de aproveitar a rebarba e inaugurar o meu também, queria conhecer melhor os colegas.

Os primeiros a chegar foram Gladcya e Sansão, um casal do Ceará. Ela, professora de Português no Procapes, eu já conhecia do dia da entrevista em Brasília, e ele é casado com ela e está aqui só para acompanhar a esposa. Depois chegaram Fábio e Rosilene, ambos gaúchos e também professores de Português. Fábio já esteve aqui na missão 2008/2009 e agora está acompanhado pela namorada, Rosilene, que será minha colega no Profep. Vieram ainda Aurélio, professor de Português em Minas Gerais; Lucimar, professora de Português em Mato Grosso do Sul e João Cleto que, apesar de ser professor de Biologia em São Paulo, escreveu um livro sobre Tétum – Guia de Conversação. Pelo visto, o Betão se entrosou mais com os linguistas do grupo. Aurélio e Cleto eu também conheci em Brasília, mas Lucimar eu conhecia daqui mesmo, de Timor, em 2005. Apesar de viver em MS, a moça é carioca e arrasava nas festas dançando até furar as sandálias.

O grupo decidiu fazer uma votação para escolher o nome que escreveremos numa placa para indicar o local da tripla residência de brazucas – Erivelto, eu e Roberto – e o vencedor foi “Ruela do Erivelto”. Claro que, tendo sido o “descobridor” e primeiro morador na casa, o amazonense mereceu a honraria.

Em meio às brincadeiras, obviamente que o papo acabou se direcionando para o trabalho da missão brasileira e, pelo que entendi, esse é que precisa ainda se direcionar para algum ponto. Não quero tirar conclusões precipitadas, mas de acordo com o que relataram os colegas, apesar de Timor ter-se reestruturado tão bem nesses últimos quatro anos, como pude constatar em minhas primeiras andanças, em termos de educação, o progresso por aqui ainda anda a passos lentos e pouco ou quase nada mudou na administração do MECDJ (Ministério da Educação, Cultura, Desportos e Juventude) e parece que o documento, cujo trecho reproduzo a seguir, assinado em 2005 pelos queridíssimos Tarcísio e Raimundo, infelizmente continua bem atual...

“Sempre tivemos a preocupação em trazer para perto de nossas ações os professores timorenses que poderiam, com o término da Missão Brasileira, dar continuidade aos trabalhos do Instituto de Formação Contínua de Professores, garantindo-lhes assim, uma perspectiva de sustentabilidade. Porém, em nenhum momento, mesmo com vários pedidos que fizemos neste sentido, fomos atendidos. Quando pensamos na possibilidade de construção conjunta destas ações, vislumbramos a perspectiva deste país, em um futuro bem próximo, se auto-sustentar. Nos tem sido frustrante sermos apenas executores, pois quando nos propusemos a contribuir e a trabalhar em conjunto com o Timor, pensávamos em partilhar a gestão, no entanto, sem decidir pelo Timor. Neste instante é o que propomos para o IFCP: auxiliar na gestão do órgão, propondo modelos e estratégias dentro de um programa de formação das pessoas que o dirigem. Da mesma forma está sendo elaborado um organograma para o Ministério da Educação e Cultura do Timor-Leste, com intuito de otimizar o trabalho.”

Eta saudade monstra que eu tenho desses dois meninos... meus filhotes em Timor... sempre!

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