Olá!

Bem vindos ao diário de uma brasileira em Timor-Leste - uma meia-ilha no outro lado do planeta que a todos encanta com a magia do canto de uma sereia.
Ou seria o canto de um crocodilo? Bem... em se tratando de Timor, lafaek sira bele hananu... :-))

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Minha vida sem mim


Hoje estou exausta – e ainda estou no meio dos preparativos para a viagem! É numa hora dessas que invejo aqueles que se vão pra qualquer lugar com uma mochilinha e se viram tão bem quanto eu com quilos e quilos de bagagem.

Li em certo lugar, onde alguém mais sábio que eu dava dicas de viagem, que tanto faz se vai partir para uma temporada de um mês ou de um ano, a quantidade de roupas que se deve levar é a mesma. Isso faz todo o sentido do mundo... a não ser que se vá para Timor-Leste!!!

O texto estava num site sobre intercâmbio e fui parar lá procurando algum tipo de ajuda já que sou péssima para arrumar malas. Como a CAPES – quando interessa – me considera “bolsista”, nada mais natural do que me informar num lugar onde as F.A.Q. (Frequently Asked Questions) são a respeito de sapatos para andar na neve e de vestidos para usar no “prom” (promenade, o famoso baile de formatura nas escolas norte-americanas). Certamente, ninguém imagina que vá haver um “bolsista” brasileiro em qualquer escola timorense, ao menos, não por enquanto.

O fato de eu ter uma experiência prévia no país, às vezes mais atrapalha que ajuda. Tenho certeza que vou passar uns bons dias dizendo coisas como, “Cadê o City Café que estava aqui?”, “Vamos jantar no Exótica!”, “Que tal pegar um karaokê no AAJ?”. Quatro anos é um período de tempo considerável, principalmente num país em reconstrução como Timor. Provavelmente os antigos proprietários do City Café, do Exótica e do AAJ, montaram seus negócios num período em que ninguém pensava em investir em Timor-Leste e mais tarde venderam as concessões com uma boa margem de lucro. Será que o Sugar ainda tem a lan house ou já voltou pra China? Será que vou viajar ao Timor de 2010 só pra ficar com saudades do Timor de 2005?

Bem, minha experiência ajuda, por exemplo, quando sei que não há sapatos pra mim em Dili. Sou “pezuda”, calço 39, o que no Brasil é apenas um tamanho grande, mas que pode ser encontrado em qualquer sapataria do território nacional. Em Timor, terra de mulheres miúdas, meu tamanho de pé é quase uma aberração. Mesmo em Bali, por ser um centro turístico da Ásia, os sapatos em numeração correspondente ao nosso 39 podem ser encontrados, mas são vendidos, principalmente, para as mulheres australianas, e os preços são compatíveis com a renda delas, bem diferente da “bolsa” da CAPES. E qual a consequência disso? Estou olhando nesse momento para duas malas abarrotadas de sapatos!

No final, o mais complicado nem é arrumar as malas, mas sim, deixar a vida organizada por aqui. Uma hora é o carnê do IPTU que ainda não chegou, noutra é avisar à administradora dos cartões de crédito que minhas compras passarão a ser feitas em lugares, digamos, inusitados. Em 2005 havia apenas um supermercado em Dili que aceitava cartões de crédito. Quando o funcionário da Mastercard viu aquelas compras sendo feitas num lugar em que, possivelmente, nunca tinha ouvido falar, bloqueou o meu cartão e mandou um novo pra minha casa... aqui no Rio de Janeiro, claro. Claro, também, que ninguém da minha família se deu ao trabalho de abrir a correspondência e só descobri que o cartão estava bloqueado quando tentei pagar o hotel em Bali, durante as férias de verão na UNTL (Universidade Nacional Timor Lorosa’e, onde eu trabalhava).

Um filho vai ficar encarregado de pagar o IPVA do carro, o outro, de fazer o balanço da loja. Uma nora vai ter que ficar com uma procuração para acompanhar meu processo na Faetec, e a outra está encarregada do mais importante: manter limpa a areia dos gatos! Graças a Deus tenho a Da Guia que há 25 anos veio para ser babá dos meninos e hoje é minha babá. Ela é quem vai ficar com a incumbência de fazer essa casa funcionar. Mamãe ficará com as questões bancárias e meu sócio com os pagamentos referentes à loja. Ufa! Faltou alguma coisa? Certamente sim, mas estou cansada demais pra pensar nisso agora.

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