Olá!

Bem vindos ao diário de uma brasileira em Timor-Leste - uma meia-ilha no outro lado do planeta que a todos encanta com a magia do canto de uma sereia.
Ou seria o canto de um crocodilo? Bem... em se tratando de Timor, lafaek sira bele hananu... :-))

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Como fui forçada a conhecer Jakarta



Cada um de nós conhece uma pessoa que parece ser completamente sem atrativos, mas inexplicavelmente (para você), essa pessoa atrai o sexo oposto como as frutas que caem da gaiola da Chiquita atraem os ratos. O conceito de beleza é mais subjetivo do que parece e, fora unanimidades como Reynaldo Gianecchini ou Gisele Bündchen, há uma enorme gama de variações aparentemente inexplicável. O mesmo conceito se aplica também a lugares, ou como entender que alguém ache bonita a cidade de São Paulo? Pois foi isso que eu achei de Jakarta: uma São Paulo piorada! É um grande centro, uma capital de país, porém não possui qualquer atrativo turístico. Jakarta é feia, suja, cinzenta e tem um dos piores tráfegos que já conheci, e só acredito que essa cidade tão desprovida de charme esteja na Indonésia porque a cada 50 metros há um “Padang”(*).

E o que estaria essa que vos escreve fazendo em Jakarta? Nada! Simplesmente a Lion Air me ofereceu uma conexão impossível e perdi o vôo para Ho Chi Minh!!!

Dez dias atrás, entrei no website da Lion Air e digitei “Partida de Denpasar” e “Chegada em Ho Chi Minh”. Imediatamente apareceu uma conexão saindo de Bali às 6:40 h da manhã e chegando em Saigon às 13:00 h, com troca de aeronave em Jakarta. Olhei para a hora da saída e da chegada sem me preocupar com a parada no meio do caminho. Não fui eu quem fez a conexão, isso me foi oferecido pelo sistema da Lion Air e simplesmente aceitei. Houve um atraso na saída, mas mesmo que isso não tivesse acontecido, teria sido impossível cumprir o horário. Tive que sair de Bali em um vôo doméstico para Jakarta com chegada prevista para 7:30 h, hora local (uma hora a menos que em Bali). Desembarquei às 8:05 h e a partida para Saigon seria às 8:25 h. O problema é que, em Jakarta, o terminal doméstico fica a 5 minutos de taxi do terminal internacional. Contando o tempo que levei para convencer um funcionário a me ajudar, a corrida dentro do terminal e o tempo que eu levaria na imigração, dificilmente teria dado certo a louca conexão programada pela Lion Air. Agora estou aqui em Jakarta com tudo pago por eles, mas perdendo o hotel que já tinha pagado no Vietnam e fazendo um tour que não programei.

Estou num tal de Sanno Hotel que fica num lugar que lembra o setor hoteleiro em Brasília, outra cidade que acho horrorosa. É um bom hotel, sem dúvida, mas tem tudo aquilo que evito: salão pomposo, elevadores com música, chave por leitura ótica e uma enorme equipe que não fala uma palavra em Inglês. Parece o hotel que fiquei em Kuala Lumpur e detestei.

Meu tipo de hotel não pode ter mais que três andares e as chaves têm que vir naqueles chaveiros enormes, de madeira, de preferência, trabalhada. Os hóspedes confraternizam em petit comité, ou numa piscina ao nível do chão, e é proibido carpetes, onde quer que seja. Os atendentes têm que falar alguma língua que eu entenda e, principalmente, eu tenho que ter escolhido estar lá. Aqui, não foi minha escolha estar nem na cidade, quanto mais no hotel, então... vou levando.

Contratei um motorista, que também mal fala Inglês para me levar a alguns pontos turísticos. Ele não entendeu que eu queria parar e visitar os lugares e limitou-se a passar por eles apontando, “National Museum”, mas eu estava tão cansada e o tráfego tão ruim que nem insisti. Depois de muito insistir, consegui fazê-lo parar num shopping de informática, mas o homem colou em mim feito um guarda-costas, até mesmo quando entrei numa loja de departamentos e comecei a escolher calcinhas. Não gosto de fazer compras com homens ao lado, nem quando eles entendem o que digo... O máximo que consegui foi comprar um cartão de memória para meu netbook, mas parece que preciso de algum programa para que o computador o reconheça como memória RAM. Voltei do passeio, comi alguma coisa e dormi um pouco. Agora, estou na sala de refeições do hotel tentando terminar esse post e, desde que me sentei aqui, uma atriz muçulmana chora aos berros numa atuação das piores, no que parece ser uma novela. Os gritos são desesperadores e imagino que a personagem tenha recebido a notícia da morte de alguém muito querido, mas confesso que está difícil até raciocinar com esse lamento tão profundo ecoando pelo salão. Melhor ficar por aqui antes que a dor me contamine e voltar a dormir. Afinal, amanhã é dia de “tentar” chegar ao Vietnam novamente...


(*) Padang é o nome de uma região da Indonésia famosa pela boa (?) comida e muitos restaurantes do país usam seu nome como indicativo de qualidade. Em 2005, de tanto ver a palavra associada a restaurantes, pensei que “Padang” significava “restaurante” em Bahasa Indonésia, e continuo a usar o termo porque estou certa que os professores que estiveram em Timor naquela época vão saber identificar exatamente o tipo de lugar a que me refiro.

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