Olá!

Bem vindos ao diário de uma brasileira em Timor-Leste - uma meia-ilha no outro lado do planeta que a todos encanta com a magia do canto de uma sereia.
Ou seria o canto de um crocodilo? Bem... em se tratando de Timor, lafaek sira bele hananu... :-))

domingo, 26 de setembro de 2010

Le Temple de Bouddha



 
Durante uma vida humana são raros os momentos de verdadeira paz em que não somos devorados pela expectativa nem pelo medo. Por mais que eu tenha estudado a filosofia budista, continuo a ter medo - já diz o sábio ditado que, quem tem... tem medo - assim como continuo a cultivar expectativas e, consequentemente, continuo a me desapontar e desapontamento gera sofrimento. 
 
Planejo essa viagem ao Laos há tanto tempo, li tanto e ouvi tantas pessoas falando sobre o país, que não pude evitar uma enorme expectativa que, como já seria de se esperar, falhou em muitos pontos.


 

Podem dizer que estou traumatizada, que ando estressada, ou coisa assim, mas que quando cheguei aqui e achei o aeroporto de Luang Prabang muito parecido com o aeroporto de Dili, me deu até um aperto no coração. Felizmente o taxi estava impecavelmente limpo, o motorista não era fedorento e a cidade, apesar de muito pequena é extremamente bem cuidada. Gente, vou completar uma semana sem ver um rato! 
 

O hotel é uma gracinha e a recepcionista, Neo, muito gentil. Organizou um tour completo para amanhã e me encaixou numa excursão em grupo hoje à tarde. O susto começou aqui: 90 dólares pelos passeios, e isso porque eu pechinchei bastante com toda a minha experiência adquirida nas lojinhas da Poppies Lane 1, em Kuta (Bali). Tomei uma ducha quente, dentro de um box, sem molhar o banheiro inteiro (rss) e fui caminhar pela vizinhança. Essa coisa deles manterem o estilo francês é bonitinha e acredito que atraia muitos turistas, mas juro que eu esperava por uma cidade mais "asiática". O hotel fica a poucos metros do templo mais antigo da cidade, Vat Xiengthong, e aproveitei para também comer um sanduba antes da excursão às cataratas Kuang Si. Eu disse sanduba? Le pain avec le fromage, poitrine fumée et tomates confites. 
 

A van foi pontualíssima e viajamos cerca de 35 quilômetros até chegar a Kuang Si onde tive a grata surpresa de encontrar uma reserva de recuperação de ursos negros. Nessas viagens eu já tinha me encontrado com tigres, elefantes e uma variedade de macacos, mas não tinha visto nenhum urso. Quase tive um encontro também com uma cobra, ao subir num tronco para fotografar um urso deitado numa rede, mas fui avisada a tempo e corri mais que diabo da cruz. 
 
A cachoeira é bonita e o lugar é bastante relaxante, mas não achei nada de tao especial assim. A melhor parte foi quando já estávamos voltando a Luang Prabang e um rapaz francês resolveu perguntar à japonesinha sentada a seu lado de onde ela era e a ouvi responder, "Brazil". Dei um pulo no banco e comecei a falar em Português com a moça. Ela é de São Paulo, está estudando Inglês na Nova Zelândia e aproveitou para passear pela Ásia numa folga do curso. "Não tenho sentimento nenhum politico ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa." e eu não falava Português há quase uma semana. Assim com há quase uma semana eu tenho energia elétrica 24 horas por dia, há quase uma semana eu não vejo um rato, há quase uma semana não sou chamada de "Senhora rabo grande" na rua... 
 
Também paramos numa vila do interior para conhecer a vida regular dos laosianos e me senti mais ou menos como os turistas estrangeiros que chegam ao Rio e vão num jipe conhecer a Rocinha e o Vidigal. Logo na entrada, um grupo de meninas vendia pulseiras e todas rezavam o mesmo mantra: "Can buy from me, five thousand. Can buy from me, five thousand.". A pobreza do lugar e a forma como as crianças eram expostas para comover os turistas me deu um frio na espinha. Juro que não era isso que eu estava esperando ver numa república que, apesar de socialista, é tão espiritualizada. Na minha cabeça o socialismo aliado à espiritualidade geraria um povo que jamais imploraria por 60 centavos de dólar. 
 
Pouco antes de chegarmos à cidade, fomos surpreendidos por uma chuva forte que alagou as ruas em poucos minutos. Resolvi desistir da última etapa do programa que seria um passeio pelo mercado noturno. Cheguei até a me comprometer com Aida, a garota brasileira, de jantar num restaurante próximo à feira, mas além de estar extremamente cansada, não quero correr o risco de adoecer sozinha numa viagem dessas e acabei não indo. 
 
Amanhã é um novo dia e um dia que vai começar bem cedo, já que vou receber as bençãos dos monges que andam pelas ruas coletando alimentos às seis da manhã. Espero não ter que ser abençoada debaixo de outro temporal desses. 
 










 

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